Nada mais sai de mim – António Raimundo

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É oportuno a reinvenção do Parlamento para fazer face à situação que nos aterroriza a todos. Impõe-se tal necessidade. Porquanto é efectivamente lá que se vê a discussão dos nossos direitos e a observação rigorosa das leis vigentes no país. Vêm tempos difíceis, não nos podemos dar ao luxo de colocarmos os partidos políticos acima da Nação, nem tão pouco fazer ilações à “Norberto Garcia”, o nosso excelente compatriota.

Nesta Altura, as organizações políticas devem convergir para o bem-estar da Nação, e nada de disputas, parecendo homens que lutam pela mesma “miúda”. Há-de vir escuridão de crises se o governo não tomar medidas cautelares. Não me refiro àquela de três dias que tinham sido apregoados por charlatões. Em rigor e num país sério, teriam pagado o meu único tostão que pus nas velas.

Tem de entrar em discussão a medida do Executivo que nos coage a pagarmos 60%/25% do valor global das propinas. À luz da Constituição de Angola, fundamenta-se a existência dos deputados para a representação do povo, e isso pressupõe salvaguardar a todo custo os direitos do povo. Afinal de contas não somos órfãos, só há uma tendência de fuga à paternidade. «Enquanto deputado, ganho pessimamente mal», assegurou um deputado por quem nutro muita admiração, no Debate Livre, da TV Zimbo. Se o deputado garantiu ser pago pessimamente mal, então o pacato cidadão ganha miseravelmente mal. E assim vamos nós à deriva sob um olhar esquivante de quem nos poderia estender a mão.

Como noutras situações similares e decorrentes é notável muita insensibilidade à recente Medida que abrange todas as instituições do ensino geral privadas, público-privadas e universitária, talvez se deve ao facto de já estarmos acostumados a pagar por serviços não consumidos, ou não prestados. A título de exemplo, o pagamento de taxas de circulação, mas em troca, recebemos estradas que só sabem fazer caretas e piadas há muito tempo. À medida que olho para a referida medida, faz-me crer que a nossa educação está nas mãos de uma “elite mercantilista” cujo cerne de toda essa conversa é só o lucro em detrimento do ensino. Mas os “Lexus”, tão vaidosos que são, aceitam mesmo andar sobre estradas que fazem caretas?

Não nos esqueçamos que o vínculo existente entre os estudantes e as instituições privadas é de prestação de trabalho nos termos da lei, ou seja, paga-se pelo trabalho prestado. Fora disso é um atropelo à lei. Obediência às leis deve ser de carácter obrigatório e ninguém deve estar sobre as mesmas, meus senhores.

Parece-me que há aqui uma vontade de empobrecer cada vez mais o empobrecido. «Será desastroso os professores das escolas privadas não receberem os ordenados se os encarregados não pagassem as propinas», garantiu a Sra. Luísa Grilo, Ministra da Educação. Recuso-me a aceitar que terá defendido os professores das instituições privadas devido ao seu Externato FREINET, mas por sentimento empático, afinal de contas, ela não é mais uma ministra.

Mas também como é possível não ficarmos frustrados se estamos a pagar por serviços não prestados? Objectivamente tem de haver cautela para que essa injustiça não venha a transformar-se numa catástrofe.

E em meio à COVID-19, ainda há entidades empregadoras que desafiam o Decreto Presidencial, isto é, desempregam funcionários. Por conta disso, muitos sãos os estudantes que não têm dinheiro para comer, só para não falar dos 60%/25% do valor global das propinas.

Só um detalhe, uma boa parte das famílias angolanas são monoparentais, ou seja, só há um dos cônjuges e, maioritariamente, o cônjuge restante é uma mulher. Se calhar porque morrem mais homens aqui devido ao estresse do que mulheres que, por sua vez, fazem de tripa ao coração na zunga e no mercado informal para garantir o bem-estar dos seus filhos. Nesta altura difícil, como poderemos pagar os 60%/25%?! Aqui alguém deve estar a fugir da sua responsabilidade enquanto governo, mas também não é no pacato cidadão que devem fazer o desaguamento.

Seria bom se nos conhecessem além da nossa fome! Acho que não haveria prazer de pôr em vigor a medida do pagamento das propinas, pois além da minha fome não sai mais nada de mim. 2022 em iminência, talvez o espírito demagogo se transforme em anjo da luz e venha nos trazer um acolhimento temporário, utópico e condicional.

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