Militantes receiam que encontro entre João Lourenço e secretários de CAPs do país seja apenas “show off”
O líder MPLA, João Lourenço agendou para a próxima segunda-feira, 26, um encontro no Centro de Conferências de Belas, em Luanda, com os primeiros secretários dos Comités de Acção do Partido (CAP´s) de todas as províncias do país.
Segundo consta, o encontro terá, entre os objectivos principais, avaliar o estado organizativo e funcional do processo de redinamização das estruturas de base do MPLA, com maior enfoque para a realização das Assembleias de Balanço e Renovação de Mandatos dos Comités de Ação.
No seio dos militantes, amigos e simpatizantes do partido no poder há uma expectativa em torno deste encontro. Miguel Madeira, por exemplo, expressa preocupação de que o evento possa se transformar em mais uma oportunidade de “show off”, onde os militantes são apenas espectadores passivos, sem voz activa nas discussões.
Ele critica a possibilidade de que, apenas os militantes de áreas privilegiadas, como os bairros condominiais, tenham a palavra, enquanto aqueles que vivem em regiões suburbanas e enfrentam dificuldades diárias sejam marginalizados.
O militante Diogo da Cunha, também levanta questões sobre a representatividade dos participantes. Cunha espera que o presidente do MPLA João Lourenço se reúna de facto com a base do partido, incluindo os CAPs (Comités de Ação do Partido) das localidades mais representativas, ao invés de se concentrar apenas nos militantes das zonas urbanas mais abastadas, que não vivenciam as realidades enfrentadas por grande parte da população.
Há uma sensação entre alguns militantes de que o formato do encontro pode limitar a participação activa, transformando-o em mais uma ocasião em que as orientações são simplesmente transmitidas de cima para baixo, sem espaço para diálogo.
A previsão é de que o evento seja marcado por uma presença limitada de secretários devido ao espaço disponível, citando por exemplo, “só o Municipio de Viana, pode preencher todos os lugares apenas com seus representantes locais”.
Essa expectativa de uma reunião controlada e direcionada, em vez de um diálogo aberto e inclusivo, já é vista por alguns como um sinal de insucesso, especialmente se os microfones e as primeiras filas forem monopolizados por figuras previamente selecionadas.
Por outro lado, os desentendimentos entre os seguidores do antigo presidente José Eduardo dos Santos e o actual João Lourenço permanecem. Em causa está o controlo do poder, o combate a corrupção e à gestão dos recursos do país.
José Eduardo dos Santos governou Angola por quase 38 anos, desde 1979 até 2017. Quando João Lourenço foi nomeado sucessor e venceu as Eleições Gerais em 2017, a expectativa de Dos Santos era que o novo presidente mantivesse o “status quo” e seguisse as orientações do antigo líder.
Contudo, Lourenço rapidamente começou a consolidar seu próprio poder, removendo aliados de José Eduardo dos Santos de posições estratégicas no governo, no partido (MPLA) e em empresas estatais. Essa remoção foi vista como uma tentativa de João Lourenço se emancipar da sombra do então estadista e assumir total controlo do MPLA e do país.
De seguida, figuras como General Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como “Kopelipa”, e Leopoldino do Nascimento, conhecido como “Dino”, mas nunca chegaram a julgamento.
Segundo o analista político Agostinho Sikato, apesar destas duas figuras estarem ligadas a uma série de negócios, cujos processos se interligam “são também dois mais próximos colaboradores de José Eduardo dos Santos, que mais segredos sobre o país têm”, disse.
Em fim de mandato, e de carreira política, Joao Lourenço, sabe que cedo ou tarde será responsabilizado pelos seus companheiros, não importa quem ele vem a indicar. “Vimos como figuras como Bornito de Sousa e muitos outros abandonaram José Eduardo dos Santos no momento crucial”, lembrou Agostinho Sikato.
O politólogo não tem dúvidas de que muitos desses também abandonarão João Lourenço, afirmando ainda que “a actual vice-presidente é uma das figuras que esteve muito próxima do Presidente da República na altura, José Eduardo dos Santos, embora mais ligado a questões técnicas.
O antigo vice-presidente da República Manuel Vicente, é uma dessas pessoas. “Temos outras figuras como o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Nando, que conviveram directamente”, lamentou o nalista.
Fonte: O Decreto