Jornalista da Despertar impedido de entrar na sala de julgamento após divulgação da matéria que compromete imagem do juiz
O jornalista da Rádio Despertar, Horíbio Fernando Henjengo, foi nesta quarta-feira, 19, impedido de entrar na sala onde decorre o julgamento dos bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, por ter supostamente divulgado os pronunciamentos do juiz da causa Tutre António, que teria impedido que o ex-bispo da IURD, Valente Bizerra Luís, “falasse de política em pleno julgamento”.
Na audiência na última quinta-feira, 13, o antigo vice-presidente do conselho de direção da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no país, actual líder da “ala angolana”, afirmou em tribunal que, este julgamento só agora aconteceu por causa do programa de combate à corrupção levado a cabo pelo Presidente da República, João Lourenço, acusando o Executivo de José Eduardo dos Santos (JES) de ter protegido os dirigentes da IURD em julgamento.
Valente Bezerra Luís, garantiu que vários pastores e bispos apresentaram queixas e denúncias às autoridades, mas não foram levados a sério. O juiz principal não gostou e advertiu-o: “Senhor bispo Valente Bezerra Luís, isso é discurso político e não vamos entrar por aí”, advertiu o juiz principal da causa, Tuttre António.
A informação que foi também veiculada pelos órgãos de comunicação social presentes na sessão da última quinta-feira no Tribunal Provincial de Luanda Dona Ana Joaquina, nomeadamente Rádio Angola, Club-K, Novo Jornal, Angola 24horas, e outros, motivou na manhã desta quarta-feira (19) o escrivão procurar saber de quem teria publicado a referida matéria com suporte áudio.
Tenho orientações de que, pelo menos hoje, não tenha acesso à sala, talvez amanhã”, disse o escrivão que não avançou de quem foram as orientações, acrescentando que “isso não ficou bem, levaste o juiz na arena política”.
Uma fonte do tribunal garantiu que, a notícia publicada coloca em jogo a confiança do juiz presidente com o Presidente da República, João Lourenço, pois “percebe-se que, o juiz em causa, tenha rivalidade com o chefe o Estado angolano, situação que não corresponde com a verdade”, referiu a fonte.
O jornalista da Rádio Despertar, Horíbio Fernando, nos últimos tempos tem trazido grandes revelações do caso IURD, situação que sufoca os reformistas que dizem ter o apoio dos órgãos de comunicação social públicos do país.
O profissional considera ser uma estratégia bem montada para encurtar a verdade em pleno julgamento. “O jornalista deve informar com verdade e responsabilidade, a notícia não deve ser guardada como outros profissionais são orientados”, disse.
“A reportagem que os senhores têm nos telefones e clara e não entendo a motivação de bloquear a minha entrada na sala”, sustentou o jornalista.
Ainda assim questiona: “como é possível as mesmas declarações do juiz presidente serem consumidas por outros meios que comunicação social, que acompanham o julgamento, mas é a só a Rádio Despertar é que está ser impedida?”, questiona Horibio Fernando para quem “aqui está uma das razões”, reforçando que “nós só divulgamos o que ouvimos em plena sessão julgamento e mais nada”.
Recorda-se que o julgamento do caso IURD em Angola decorre na 4ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda (TPL), Palácio “Dona Ana Joaquina”, onde bispos e pastores são acusados de cometerem crimes na igreja.
Os conflitos na Igreja Universal do Reino de Deus em Angola já se arrastam desde 2019.