Isabel dos Santos usurpa activos da Sonangol

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Luanda  – Duas naves que a Sonangol detém na Zona Económica Especial de Viana, ZEE, estão a ser exploradas pelo Candando, rede de supermercados detida por Isabel dos Santos, apurou o Correio Angolense, junto de fonte segura.
Fonte: Correio Angolense
A exploração das naves, feita no âmbito de uma alegada “cedência”, é apenas uma das amostras de como Isabel dos Santos, já nomeada ao arrepio da Lei da Probidade Administrativa, está a usar a Sonangol em proveito próprio.
Como todas as outras naves, essas também foram erguidas com fundos da Sonangol e a sua exploração deveria responder ao que se projectou inicialmente para aquela zona económica, segundo avançou a fonte deste jornal.
A prática do cabritismo, isto é, de comer no pau em que está amarrada, teve o seu arranque o ano passado quando a Sonangol adquiriu, para distribuição aos seus trabalhadores, cartões de compras (cabazes) emitidos pelo Candando.
Dos ganhos que Isabel dos Santos conseguiu à custa da Sonangol constam, também, a contratação da Ucall, uma empresa igualmente detida por ela e a quem foi confiada a condução de testes psicotécnicos a perto de 8 mil trabalhadores da Sonangol. Os valores dos contratos cobrados por cada teste apenas são do conhecimento de Isabel dos Santos e de pessoas escolhidas por ela a dedo.
 A exploração de activos da Sonangol pelos supermercados Candando é uma amostra de como Isabel dos Santos usa a petrolífera em proveito próprio.
A tentação de Isabel dos Santos de impôr a sua agenda e impôr-se a todo o custo começou assim que foi nomeada presidente do Conselho de Administração. O processo teve início há cerca de dois anos quando em paralelo com a criação de um Comité Técnico para o Sector Petrolífero, determinada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, ela, aparentemente com o suporte do próprio pai, ou seja do mesmo Presidente, criou um Grupo Técnico que tinha o mesmo fim e vocação.
Da “competição” entre os dois corpos resultou a adopção do modelo de reorganização proposto por ela. O projecto de Isabel dos Santos compreendia a criação de cinco entes, a saber:
1. Agência Nacional de Petróleos;
2. Concessionária Nacional;
3. Holding com funções operativas em serviços petrolíferos, do poço ao posto;
4. Holding de serviços petrolíferos que incluiria a Sonair, MS Telcom e ESSA, esta última virada para sondagens;
5. Holding para gestão de participações não petrolíferas, tais como a clínica Girassol, bancos e afins.
Estava igualmente previsto que o Conselho de Administração teria um PCA não executivo e um PCE que, como o nome sugere, seria o executivo. Ao PCA caberia a concepção da estratégia de governação, enquanto que ao PCE caberia a sua implementação.
À data, aparentemente ciente dos potenciais conflitos de interesse, anticorpos e dos focos de resistência que a sua colocação na primeira linha poderia resultaria, Isabel dos Santos chamou para si o cargo de PCA, enquanto que Paulino Jerónimo seria o PCE.
Fronteiras
A delimitação de “fronteiras” durou pouco. Ancorada no poder que o pai representa(va), IS chamou a si todos os “assuntos correntes”, incluindo os que estavam sob alçada de Paulino Jerónimo.
Da sua crescente influência resultou o fim da separação entre a área estratégica e a área operacional. Acto contínuo, assiste-se a partir daí ao aumento da influência de portugueses em vários departamentos da companhia.
Paulo Catarro, actual porta-voz, seria o primeiro de uma legião de portugueses que a determinado ponto chegou a estar em 120 pessoas. De acordo com fonte familiar a este dossiê, “hoje andam por lá à volta de 70”.
A sua contratação pela Sonangol representou também uma oportunidade de negócios para Isabel dos Santos. A WISE, uma empresa sua, foi contratada para fazer o “procurement” de expatriados, tendo o mercado português sido identificado como primeira opção. Sem um histórico nesta matéria, a WISE subcontratou a BCG, DBC e PWA, as quais, de uma ou de outra forma, “cruzam-se” com Isabel dos Santos.
Foi também por via idêntica a esta que Suzana Brandão, a nova chefe do contencioso, chegou à Sonangol. “Ela vem dos escritórios de Vieira de Almeida, VDA, com quem Isabel dos Santos tem negócios”, observou fonte bem informada. Suzana Brandão, dizem as fontes, é conhecida em Portugal por saltar de galho em galho, subtraindo tudo que estiver à mão.
A crescente influência de técnicos de Portugal, “um país periférico no ramo”, resultou num processo de ostracização de angolanos e da gestão de activos confidenciais por parte dos cidadãos lusos. Fonte com acesso ao trajecto de alguns portugueses disse ao Correio Angolense que alguns deles estão a viver em Angola a sua primeira experiência profissional.
Sem mãos a medir no que toca à “portugalização” da principal empresa pública, Isabel dos Santos ensaiou o mesmo tipo de comportamento com as associadas da Sonangol.
“Não me surpreende o facto delas terem solicitado uma audiência ao novo Presidente”, disse um executivo da companhia que pediu o anonimato. “Ela praticamente vive em Londres e quando está em Luanda ninguém consegue falar com ela. No principio deste ano ela esteve em Londres de Janeiro a Março. Como deixou de haver comunicação, as associadas deixaram de investir”, observou a nossa fonte. Desta descontinuidade resultou o congelamento dos investimentos. “A maioria dos campos está em declínio, o que é um processo natural. Porém, se não forem feitos novos investimentos, os quais por norma levam tempo a produzir retornos, a nossa produção irá abaixo”, avançou fonte ligada à produção de petróleo em Angola. “Isabel dos Santos tem em mãos há muito tempo muitos contratos, alguns dos quais ligados à entrada em exploração de novos campos, mas não toma decisão”, rematou a mesma fonte.