GOVERNO DA HUÍLA DESISTE DE SE «APROPRIAR» DA ÁGUA DA FONTE DA MISSÃO
Governantes desistiram de tirar a água da Fonte Comunitária da Missão de Santo António dos Gambos, em face da resistência da população, que se opôs contra a intenção do governo de se apropriar do espaço.
A comunidade da Missão Católica do Tchihepepe, no município dos Gambos, viu terminado, esta semana, o diferendo que mantinha com o Governo da Huíla.
Os governantes desistiram de tirar a água da Fonte Comunitária da Missão de Santo António dos Gambos, em face da resistência da população, que se opôs durante 10 meses contra a intenção do governo de se apropriar do espaço. A informação foi confirmada quinta-feira, 15, ao Novo Jornal pelo líder da paróquia, padre Jacinto Pio Wacussanga.
“Gostaria de vos informar que, depois de 10 meses de luta dolorosa, que tanto sofrimento causou, os governantes que queriam tirar a água da Fonte Comunitária da Missão de Santo António dos Gambos, na Huíla, desistiram de o fazer, depois de a comunidade local ter resistido com muitas tácticas, tais como vigílias, barricadas, cartas, reuniões, intervenção nos média e vigia à volta da referida Fonte”, escreveu o prelado católico em carta enviada a este semanário.
A mudança, de acordo com o padre, iniciou no dia 6 de Fevereiro, após uma visita do Arcebispo do Lubango e Presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar ao terreno em litígio, onde interagiu com a comunidade, tendo constatado as graves necessidades de água que a população enfrenta, ao mesmo tempo que avaliou a necessidade de água nas futuras instalações do Projecto de Práticas Agro-Ecológicas.
“O próprio Arcebispo, após à visita, informou o Governo Provincial do que viu e da força da comunidade em resistir sobre o que lhe é de direito”, narrou o sacerdote.
Continuando a sua narrativa, explicou que, no dia 9 de Março de 2018, a vice-governadora para a Esfera Social e Política, Maria João Tchipalavela, foi ao encontro do Grupo da PROMAICA, a fim de ver as possibilidades de o próprio Governo Provincial ajudar com acções pragmáticas, sobretudo na componente de intercâmbios e aprendizagens mútuas com grupos de mulheres que enfrentam os mesmos desafios.
“Amanhã, dia 16 de Março, o director Provincial de Energia e Águas, o Senhor Abel João da Costa, irá igualmente à Missão, a fim de ver que tipos de apoios, em termos de aproveitamento de água, são necessários, sobretudo nas áreas de formação profissional, abeberamento de gado e abastecimento em água das futuras infra-estruturas do Projecto de Práticas Agro-Ecológicas”, lê-se na missiva do clérigo, feliz pelo fim do conflito.
“Não temos palavras para exprimir a todos vós que nos apoiastes, com acções e ideias muito concretas, a fim de que a Comunidade de Santo António estivesse hoje a celebrar a vitória conseguida a custo de suor e sangue. Estamos a ajudar a Comunidade Local a reelaborar e acelerar as propostas de projectos que, depois de tanto tempo de conflito, estiveram engavetados, a fim de serem encaminhados para os respectivos doadores”, concluiu o Padre Jacinto Pio Wacussanga.
BLOQUEIO: PROJECTO TERIA BENEFICIADO FAZENDEIROS
O bloqueio do caminho de acesso à água, com pedras e paus, foi um dos maiores desafios da comunidade da Missão do Tchihepepe, que se opôs ao projecto governamental de água, que, segundo a população local, teria beneficiado fazendeiros entre os quais o próprio governador João Marcelino Tchipingui.
Na ocasião, o director executivo da Associação Construindo Comunidades (ACC), Domingos Fingo, disse que o episódio era consequência da corrupção dos líderes comunitários. “Quando alguns líderes comunitários são corrompidos, obviamente que eles acabam pondo em causa os interesses da maioria em relação aos seus próprios interesses”, concluiu Fingo.
Fonte: Novo Jornal