Escândalo de USD 70 milhões abala sector diamantífero angolano

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O sector diamantífero de Angola enfrenta uma nova crise após a descoberta de um esquema de desvio de mais de 70 milhões de dólares da Sociedade Mineira Uári. O diretor-geral da Uári, Pedro Galiano, e o ex-diretor financeiro, Horácio Mosquito, estão no centro do escândalo, acusados de gerir um esquema de venda ilegal de diamantes que comprometeu seriamente a imagem da Endiama e minou a confiança dos investidores internacionais.

Segundo o Club-K, o esquema, que envolvia a venda de diamantes a preços abaixo do mercado, trouxe a Uári à beira do colapso. A dimensão das irregularidades foi revelada após investigações feitas pelo portal Maka Angola, do jornalista Rafael Marques, que expôs como Galiano e Mosquito teriam agido com o consentimento da Endiama, a principal acionista da Uári.

A Uári é um consórcio entre a Endiama e a empresa privada Kassypal, que deveria ser um modelo de transparência. Desde 2020, a Uári transferiu 70 milhões de dólares para a Endiama Mining, violando a Lei das Sociedades Comerciais. Galiano, que acumulava os cargos de diretor-geral da Uári e da Endiama Mining, criou um conflito de interesses ao direcionar os recursos para a subsidiária sem justificativa legal.

A trama se intensifica com a elaboração de um contrato entre a Endiama Mining e a Uári, obrigando a transferência de até 50% das receitas da venda de diamantes, sem o conhecimento da Kassypal. A SODIAM, empresa encarregada da comercialização dos diamantes, também estava envolvida nas transferências. Nos últimos quatro anos, mais de 70 milhões de dólares foram desviados e, apenas em 2024, mais de 10 milhões foram surripiados. Para complicar ainda mais a situação, quando a Uári não tinha recursos, a Endiama Mining fornecia empréstimos à empresa, tornando-a devedora de grandes quantias.

Percebendo as irregularidades, a Kassypal demitiu Horácio Mosquito, mas Galiano o manteve como consultor próximo, desafiando o novo diretor financeiro, que se recusava a autorizar despesas sem justificativa. Isso gerou tensões internas e expôs ainda mais o esquema de desvio.

Diante dessas revelações, um processo judicial foi aberto contra Galiano e Mosquito por desvio de recursos, fraude e violações às leis comerciais. A SODIAM, ao descobrir o esquema, cancelou as transferências ilegais. Irritado, Galiano pressionou a Mota Engil, que paralisou as operações na mina Uári alegando falta de pagamento, mas a empresa negou qualquer iniciativa própria, afirmando que foi Galiano quem pediu a interrupção dos serviços.

O futuro da Uári está ameaçado, pois desde 2020 a empresa não registra lucros. Galiano ainda teve a ousadia de assegurar aos investidores que não deveriam esperar lucros pelos próximos três anos. A vida luxuosa de Galiano, marcada por imóveis de alto padrão, como a sua casa milionária no condomínio do Grupo Boavida, contrasta com a gestão corrupta que manteve ao lado de Horácio Mosquito.

Para agravar a situação, fontes da Endiama consultadas pelo Club-K indicam que Galiano e Mosquito vendiam diamantes da Uári por preços 50% abaixo do valor de mercado, prejudicando todo o setor diamantífero angolano. Agora, há temores de que Galiano delate outros membros da Endiama envolvidos no esquema.

A SODIAM cancelou as transferências, mas Ganga Júnior, PCA da Endiama, enviou uma carta à Kassypal afirmando que o contrato entre a Uári e a Endiama Mining deveria continuar até dezembro de 2025, levantando suspeitas sobre sua relação com Galiano.

Pedro Galiano e Horácio Mosquito, antecipando a ação da justiça, procuraram pelos melhores advogados de Luanda para preparar as suas defesas. Fontes na Endiama sugerem que Ganga Júnior pode abandonar Galiano, assim como o ministro Diamantino Azevedo não defendeu Carlos Saturnino no escândalo de escassez de combustíveis em 2019.

Em meio a esse escândalo, as contas bancárias de Galiano e Mosquito, assim como suas empresas, já estão a ser investigadas. Advogados consultados afirmaram que a defesa será uma tentativa de retardar o processo, alegando que as transferências são comuns na indústria, mas as evidências de benefício pessoal enfraquecem essa tese.

O escândalo da Uári revela a necessidade urgente de uma governança mais rigorosa e transparente no setor diamantífero angolano, onde a Endiama tem sido repetidamente associada à falência de projetos devido à má gestão de seus líderes.

Club-K

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