ENTRADA PROIBIDA: ‘PALÁCIO’ DE SAVIMBI A CAIR AOS PEDAÇOS

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Era considerado um “palácio subterrâneo” pelo próprio Jonas Savimbi e por quem ali trabalhou e frequentou. Actualmente, não passa de uma espécie de aterro sanitário, ao abandono, onde é depositado lixo de toda espécie. O espaço está interdito aos militantes da UNITA. Os que tentaram visitá-lo foram presos.

Poucos são os que conhecem o valor histórico que o ‘bunker’ do líder e fundador da UNITA representa para o país e, em particular, para o Bié, a província mais fustigada durante a guerra. Foi por ali que foram traçadas estratégias militares para atacar as bases ‘“inimigas’ ou para fazer desaparecer possíveis rivais do líder da UNITA. Mas também, foi por ali que se via e ouvia um Jonas Savimbi contador de anedotas e, bem-humorado.

Embora esteja vazio e votado ao esquecimento, o ‘apartamento’ comporta um corredor extenso que liga as duas entradas, uma casa de banho, uma sala vasta que funcionou como sala de reuniões do alto comando do exército e até um ginásio.

Com a entrada principal situada dentro do quintal do palácio municipal do Andulo, o ‘bunker’ foi escavado e construído no princípio de 1994 com uma espessura reforçada de betão armado por ordem de Jonas Savimbi para escapar dos intensos bombardeamentos vindos da parte das Forças Armadas Angolanas com a intenção de retomar o município que esteve, durante mais de dois anos, sob a alçada das tropas da UNITA.

“Estas cicatrizes na minha perna direita foram feridas que tive, por causa de um pau mal fixado que me havia caído ao pé, quando estávamos a preparar as condições para colocarmos a placa geral do ‘bunker’”, recorda o ancião Daniel Ndovala, visivelmente emocionado.

Outra testemunha explicou que não era fácil ter acesso ao palácio subterrâneo por razões estratégicas, mas acrescenta que, quem tivesse o privilegio de estar dentro e ao lado de Savimbi notava claramente que “ele era um homem bem-humorado e contador de divertidas piadas”.

Quem chega ao município pela primeira vez, a principal motivação turística é, sem dúvida, conhecer onde está localizado o famoso esconderijo do líder do ‘Galo Negro que, entre 1994 e 2000, serviu para poupar a vida do homem que influenciou o curso da história do país. No entanto, as portas já não estão abertas ao público.

Além dos limites impostos pela administração local quanto ao acesso, o local também é alvo de uma terrível lenda criada pelos próprios munícipes, segundo a qual, quem entra no ‘bunker’ acaba por morrer. Diz a lenda que, no interior do refúgio, há uma cobra gigante que engole pessoas para vingar a morte do antigo dono da casa.

Mas, por detrás da construção desta engenhosa obra, escondem-se memórias menos boas. Uma testemunha, que não quis revelar a identidade, revelou ao NG que o edifício foi construído “à custa de muita fome, sede e frio da população”, entre os quais, alguns parentes seus.

PROIBIDA A ENTRADA

O ‘bunker’ não era propriamente uma residência de Jonas Savimbi. Foi projectado propositadamente para ser um refúgio, como um importante espaço que o líder da UNITA usava para marcar encontros de extrema importância, tanto com generais do seu exército, tanto para encontros diplomáticos. Por aqui, passou até um emissário do presidente dos EUA que veio forçar Jonas Savimbi a parar com a guerra, explicando que Washington iria reconhecer o Governo de Angola, liderado pelo MPLA, e defendia que se assinasse um acordo de paz.

O líder local da UNITA no Andulo, Angelico Feto Yeto, lamenta que o monumento não esteja aberto ao público, uma vez que, segundo ele, a permissão atrairia visitas de turistas de várias partes do país e do mundo e seria uma fonte de receita para os cofres da administração. “Em 2012, com a administração passada, tentámos entrar no ‘bunker’ e fomos severamente reprovados e levaram-nos para a polícia. Disseram-nos que o ‘bunker’ tornou-se património cultural do Governo e já não pertence à UNITA”, revela Angelino Feto.

Do outro lado, oposto à entrada, os moradores vizinhos fazem do espaço um depósito de lixo e alguns aproveitam para fazerem necessidades maiores e uso de estupefacientes.

A administração local recusou-se a prestar declarações ao NG sobre que destino está previsto para o edifício, se vai haver ou não uma requalificação e abertura a visitas públicas. Contudo, à semelhança de outros municípios que compõem o Bié, os escombros provocados pela guerra no Andulo estão a ser substituídos por infra-estruturas sociais e económicas.

Além de ser conhecido como o município do ‘bunker’, a região é também famosa pelas suas águas quentes na comuna de Cassumbi, que servem de tratamentos terapêuticos e, espanto para quem visita o local pela primeira vez.

Fonte: Nova Gazeta | Alberto Olimpo

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