Eleições Angola: “Recebemos ordem da CNE para não afixar a acta síntese”, diz membro de assembleia de voto
Por VOA
“Ordens superiores”, alegadamente provenientes da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), estão a impossibilitar a afixação pública e entrega das actas sínteses em algumas assembleias de voto em Luanda, segundo fonte da VOA.
“Estamos a ser muito pressionados pela CNE”, confessou um membro da assembleia de voto que prefere não ser identificado por temer represálias.
Nesta assembleia quase todos os delegados dos partidos políticos, incluindo o do MPLA, já se retiraram, mesmo sem a acta síntese.
Fernando Nandilson, delegado da UNITA, é o único que se recusa a abandonar a assembleia de voto sem o documento que atesta os resultados da sua assembleia.
“Assinámos as actas síntese e eles falaram que vão nos entregar. Agora, tudo no fim não querem entregar as actas. Estamos aqui entre a espada e a parede sem quererem nos entregar as actas”, disse Nandilson à VOA.
“Eles estão a dizer que a CNE disse que não podem dar nem colar as cópias das actas sínteses”.
O delegado da UNITA garantiu-nos que não vai sair da assembleia de voto sem antes receber o documento. “Não posso sair daqui sem a acta síntese”, afirmou.
“Estamos aqui a fiscalizar o voto nosso voto”
Como o senhor Fernando Nandilson, outras pessoas aguardam avidamente em frente das assembleias de voto pela afixação das actas sínteses.
A publicação das actas sínteses é uma obrigação legal, como aponta o artigo número 9 do artigo 86 da lei eleitoral angolana.
“A lei é clara. Os delegados estão nas mesas para supervisionarem pelos partidos concorrentes. Aqui nesta assembleia não entregaram a acta a delegado nenhum”, diz Laura Macedo.
“Eu apelo às direcções dos partidos que reclamem. Não vamos reclamar amanhã, vamos reclamar hoje. Eu votei e eu quero saber quem ganhou na minha assembleia”, disse-nos a activista.
Eles se dizem abertamente como apoiantes do movimento “votou e sentou”, uma iniciativa sustentada pela necessidade de se defender o voto.
“Se a gente não fiscalizar o voto, quem fiscaliza por nós?”, diz Jackson Bruno, de 24 anos.
Nick Santos, 25, diz que se sente obrigado a estar informado sobre todo o processo pois olha para ele como o desfecho de uma antiga intenção de mudança em Angola.
“Estamos conscientes que vamos ter uma mudança. Estamos em um momento histórico, a celebrar algo inédito em Angola”, diz ele.
Nesta assembleia de voto a acta síntese só foi afixada depois das 22 horas, depois de muita pressão feita por estes jovens determinados em não arredar o pé do local sem a publicação dos resultados.
“Ouvimos alguns rumores de que em algumas assembleias as actas não estão a ser publicadas. Aqui esperamos, insistimos e felizmente as actas foram afixadas”, diz Nick Santos.
Até ao momento em que publicamos esta reportagem, eram reduzidas o número de assembleias de voto que já tinham as suas actas sínteses afixadas. Em grande parte delas, os presidentes de mesas garantem que elas seriam publicadas mas “sem hora prevista”.