Efectivos do SIC acusados de receber 200 mil kzs e soltam “kimbaendeiros” que espancaram idoso de 68 anos no Caungula
Alguns agentes do Serviço de Investigação Criminal (SIC) estão ser acusados de terem recebido 200 mil kwanzas a supostos “quimbandeiros”, que teriam espancado “gravemente” um idoso de 68 anos, Fernandes Laite Muaxtibundo Mutunda acusado de práticas de feitiçaria.
Por: Jordan Muacabinza
Segundo os familiares, o facto aconteceu na sexta-feira (16 de Agosto), na comuna de Camaxilo, município de Caungula, província da Lunda-Norte, e foi protagonizado por um grupo “quimbadeiros” (adivinhadores), supostamente a mando dos senhores, Alexandre, Bulassumba, Kissoto, Paiva e Fonseca, que acusaram o idoso de feiticeiro.
De acordo com os “mandantes”, o idoso teria morto alguns vizinhos e familiares dos senhores acima descritos, que, após o rapto na sua residência, começaram a espancar a vítima com vários meios contundentes, fechando-o dentro de uma casa sob o cárcere privado.
Os agressores, de acordo com testemunhas, “queimaram a sua residência, e por fim foi despido toda roupa, os quimbandeiros e os familiares das supostas vítimas, começaram a mostrar a nudez do idoso, sob o olhar cúmplice da Polícia Nacional, na comuna de Camaxilo”, lamentam.
Os familiares afirmam que, depois de raptar o idoso, ligaram para a Polícia de Caungula para que fosse socorrido das agressões, mas sem correspondência, apesar da violência ter ocorrido nas proximidades da residência do administrador-adjunto.
“Pedimos a ele para que interviesse do caso, também a correspondência não teve respaldo, o que entendemos nós que, quer a polícia assim como vice-administrador queriam ver o soba morto”, afirma um dos filhos do acusado.
Na mesma denúncia, os familiares, apontam o chefe do posto da Polícia Nacional da Comuna de Camaxilo, identificado apenas por “Cabaco” – membro da família dos senhores que acusaram, de ter alegadamente orientado a corporação a não intervir nos actos contra o suposto “feiticeiro”.
“Para o comandante municipal deslocar-se até à comuna de Camaxilo, para resgatar o idoso, foi graça à Dra. Amélia Valente, que mandou a polícia para resgatar o soba, pois se não a sua intervenção, o soba seria exterminado sob o olhar cúmplice dos agentes policiais e do administrador-adjunto da Comunal de Caungula”, disse outro filho.
Apontam os efectivos do SIC do município de Caungula, de terem recebido na mão de um dos “quimbandeiros” a quantia de 200 mil kwanzas e posteriormente soltaram os mesmos, que alegadamente “espancaram o nosso pai, os mesmos fizeram cárcere privado durante 24 horas, e atearam fogo na residência, por isso exigimos que se faça justiça”, apelam os familiares.
E, o comandante municipal da Polícia Nacional de Caungula, superintendente André Joaquim Donasse esclareceu que foi ele e efectivos da SIC, que teriam se deslocado ao local da ocorrência, tendo socorrido o soba, que quase perdeu a vida.
Após ser resgatado, segundo o oficial superior da corporação, o idoso foi levado para o Comando Municipal do Caungula, e os suspeitos foram entregues à Secção de Investigação Criminal para fazer o seu trabalho, “por ser área reservada ao SIC, disse, acrescentando que “a informação sobre a soltura de kimbandeiros, não sei dizer porque me encontro de viagem”, explicou.
Segundo o comandante, o acto alegadamente praticado por “quimbandeiros” não apresenta respaldo legal no ordenamento jurídico angolano, “mesmo assim foram posto em liberdade”, disse, ressaltando com “admiração” o facto dos seus colegas de SIC terem supostamente posto em liberdade os presumíveis implicados – kimbandeiros e demais envolvidos.
Um dos sobas de Caungula disse à Rádio Angola, que, a forma que têm sido tratadas as autoridades tradicionais e demais pessoas acusadas de práticas de feitiçaria “são actos muito condenáveis dentro de qualquer comunidade, e a forma em que foi despindo a roupa e destampar a nudez do soba na presença dos filhos, netos, sobrinhos e bisnetos é condenável e punível, mesmo sabendo que chefe da família não seria que fosse maltratado dessa forma”, desabafou.
Espancar pessoas acusadas de feiticeiros tem sido recorrente em Camaxilo
Outro aldeão, e membro da administração comunal de Camaxilo, lembrou de um caso semelhante, de um cidadão, que tinha sido acusado “falsamente” de prática de feitiçaria, sob a alegação de ter morto uma família, os familiares das vítimas “raptaram” o senhor Joaquim Kapata, que ficou desaparecido durante 24 horas, para depois ser queimado, mas sobreviveu.
“Por cumplicidade da administração comunal, é grave um grupo de indivíduos entrar em uma administração de Estado, tirar um cidadão acusado de feiticeiro, e a ser espancado, queimado, torturado e despido a sua roupa, nos termos da lei é punível, finalmente administração comunal de Caungula tem o decreto-lei que aprova a recolha de feitiço, Digno Procurador Geral da República de Angola, Hélder Fernandes Pitta Grós”, questiona.
Por sua vez, o suposto “quimbandeiro” e “adivinhador”, identificado por John – disse ter retirado o “feitiço” do senhor Fernando Laite Muatximbundo Mutunda, admitiu à Rádio Angola que, o idoso acusado revelou que matou o seu sobrinho, e o seu sócio (feiticeiro) também ficou de atribuir uma pessoa.
“E, pelo atraso, uma vez que o seu feitiço pedia sangue, foi quando ele também tinha que matar alguém, porque eles fazem kuixiquila”, contou o “quimbandeiro”, acrescentando que, no acto das declarações do soba, estavam presentes os familiares e os filhos do falecido, pelo que, “quando ouviram isso, decidiram por queimar a casa do feiticeiro”, disse.
Segundo o “quimbandeiro”, a prática de “feitiço” é uma realidade naquela região leste do país, pois de acordo com o mesmo “o feitiço existe”, mas negou ter pago 200 mil kwanzas aos efectivos do SIC para ser colocado em liberdade. “É puramente falso, nós pagamos caução e não pagamos os valores que os filhos do feiticeiro estão a se referir, é puramente falso”, negou.