Doença estranha mata mais de dez crianças por dia nos municípios do Kuango e Kapenda Kamulemba

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Uma doença não identificada até ao momento está a provocar a morte de dez crianças diariamente nos municípios do Kuango e Kapenda Kamulemba, na província da Lunda-Norte.

Jordan Muacabinza | Cuango

O surto que assola aquela região da Lunda-Norte, afecta as populações desde o mês de Agosto último, segundo os populares sob o olhar “silencioso” do Governo da Província da Lunda-Norte, que nada faz para a identificação da doença e o consequente controlo.

As vítimas são maioritariamente crianças com idades que vão dos zero aos 9 anos, facto que tem preocupado as comunidades dos dois municípios.

Os doentes, segundo apurou a Rádio Angola, apresentam sinais de malária, sarampo, diarreias e vómitos. Entretanto, devido à falta de assistência médica, muitos pais optam pelo tratamento caseiro e os que levam as crianças afectadas pelo surto ao Hospitais Regionais de Kafunfo, Kuango e o Centro de Saúde de Kapenda Kamulemba, não enfrentam uma superlotação.

De acordo com os populares, os hospitais não têm medicamentos aliada à morosidade no atendimento dos pacientes, bem como a escassez de camas que está a obrigar que uma cama, por exemplo, seja partilhada por três ou quatro crianças.

“Precisa-se de uma intervenção urgente do Ministério da Saúde”, disse a mãe de um dos meninos que aguardava pelo atendimento.

Africano Eduardo Muanauta, pai de uma das crianças internadas no hospital de Kafunfo, município do Kuango, disse que a unidade sanitária regista muita enchente de crianças doentes, devido a “epidemia não identificada”, que de acordo com o progenitor, está a ceifar muitas vidas.

Referiu que a falta de uma resposta eficiente por parte dos médicos e a falta de medicamentos, estejam na base da continuidade do surto: “Não temos medicamentos neste hospital e todos os dias morrem mais de cinco crianças aqui em Kafunfo”, disse.

Dona Cristina da Conceição, afirmou que a “doença estranha” afectou dois dos seus filhos. Consultados no Hospital Regional do Kuango, onde estão há duas semanas, contou à Rádio Angola que, “depois disso deram-nos os papéis das consultas para que fossemos à farmácia comparar os medicamentos porque a instituição não tem medicamentos”, lamentou a senhora.

A população dos municípios do Kuango e Kapenda Kamulemba clamam por uma intervenção urgente do Presidente da República, João Lourenço, “a fazer alguma coisa para que seja banida a epidemia, senão, o número de óbitos poderá subir nas próximas horas”.

Enfermeiros eventuais reclamam pelos subsídios

A situação que afecta dezenas de crianças torna-se cada vez mais complicada, devido ao descontentamento reinante no seio dos enfermeiros eventuais, ou seja, técnicos auxiliares de enfermagem, que trabalham em regime de contrato.

Em declarações à RA, os enfermeiros que preferiram o anonimato lamentaram que não recebem os seus subsídios há mais de 36 meses, e são os que estão em maior número, já que, os efectivos “são muito poucos”.

Afirmam que dado o não pagamento dos seus ordenados, não têm tido ânimo para cuidar dos doentes, uma situação que cada vez mais complica a vida dos pacientes, sobretudo nesta fase em que a região enfrenta um surto que está a matar muitas crianças em pouco tempo.

A Rádio Angola ouviu um dos responsáveis do hospital Regional que preferiu não ser identificado e confirmou a existência de uma “epidemia” no município do Kuango, mas garante que a situação está a ser controlada, e salienta que a unidade sanitária tem recebido casos já em estado avançado.

Refira-se que, em Agosto de 2017 o município do Kuango tinha sido acometido com um surto que vitimou várias crianças e só foi controlada depois de uma intervenção de alto nível vinda de Luanda, que na altura obrigou a deslocação da ministra da Saúde, Silvia Lutukuta, que segundo apurou a Rádio Angola deve chegar a esta região nas próximas horas.

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