Desemprego e intolerância caracterizam Caimbambo
A Rádio Angola deslocou-se ao município de Caimbambo, na província de Benguela, onde conversou com o soba Fernando Soma «Kamakanha», secretário do regedor do município, e com a secretaria da UNITA localmente.
Questionado sobre a ocupação dos jovens do município, Fernando Soma informou que “têm lamentado muito por falta de emprego, visto que muitos já terminaram o ensino médio”. Quando realizados, os concursos públicos chegam a contar com até cinco mil pessoas inscritas para “vinte lugares apenas ou menos”.
Existe uma escola de formação em Artes e Ofícios onde alguns jovens têm frequentado cursos diversos, mas os formados não têm campo para aplicação do que aprendem na referida escola.
A seca é outra calamidade que flagela Caimbambo. Se aproxima o fim da época chuvosa e, de lá para cá, em Caimbambo apenas começou a chover no presente mês.
“Significa que aqueles que as sementes continuam nas lavras, esses vão colher talvez um bocado, no caso de massambala. Mas o tempo terminou. Em Março e Abril às vezes nem chove mais. O que deveríamos aproveitar são os meses de Janeiro e Fevereiro. Estamos com um problema muito grave”, lamentou.
A nossa reportagem perguntou também pelo alegado favorecimento das autoridades tradicionais ao partido MPLA, ao que o soba respondeu: “Nunca escutamos isso. Nós estamos em paz. Nos temos empenhado na organização do nosso povo. Os partidos políticos também se organizam, e todos estamos em prol das eleições. Seja qual for o partido, o objectivo nesse momento é votar, eleger quem será o nosso presidente da República, eleger os reis”.
Destacando que votar é um acto normal em democracias, o soba Kamakanha apelou aos cidadãos em idade eleitoral para actualizarem os cartões de eleitor. Cônscio de que em períodos eleitorais ocorrem muitos actos violentos, Fernando Soma exorta para que o pleito aconteça em paz, sem conflito.
“Não queremos conflito, tanto para os mais velhos, como para os jovens. Um país em paz, as pessoas devem estar organizados. Não devem usar mais a violência, tanto nos lares, a violência doméstica”, finalizou.
INTOLERÂNCIA PERMANECE
A secretária da UNITA no Caimbambo denunciou à RA o silêncio das autoridades angolanas face a morte de três jovens e o ferimento de outros indivíduos protagonizados por agentes da Policia Nacional no ano passado.
“Eles [os agentes do comando], não conseguindo aguentar a situação, chamaram os outros [agentes] do Cubal. Estes, por sua vez, vieram e lançaram uma granada que feriu sete pessoas”, explicou.
Os sete feridos estavam entre os populares que assistiram os disparos feitos por agentes da Polícia Nacional e que decidiram levar o corpo até o comando municipal, dos quais dois morreram em consequência da granada deflagrada.
A representante do partido UNITA contou ainda outro episódio de intolerância política.
O facto ocorreu quando a representação local pediu à administração comunal terrenos para construir sedes nos centros comunais. A administração indicou uma lavra como o local para edificar as instalações.
“Não temos a cultura de estragar algo do povo, nem uma pena de galinha, ensinou-nos assim o Dr. Jonas Savimbi, porque lutamos pelo povo, e para o povo nós morremos, e não é do povo que iremos estragar os seus bens”, enfatizou.
Por não aceitarem o terreno indicado, segundo a secretaria, a administração comunal instigou os populares para agredirem a delegação da UNITA constituída pelo secretário-adjunto do partido, a presidente da LIMA, o secretário da JURA, entre outros.
A agressão ocorreu na administração. A secretária da UNITA contou que a agressão durou duas horas. A delegação não “aceitou responder às provocações”. Até hoje as autoridades angolanas não deram qualquer explicação.
Em Caimbambo não têm sido permitidas hastear bandeiras da UNITA ao longo do município, isto porque “a administração ordena os seus homens para nos agredir”.
À igualdade do soba, a secretaria da UNITA incentivou os populares de Caimbambo a actualizarem os seus cartões de eleitor para “poder mudar esse ciclo”.
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