Dados da re-autópsia apontam trajectoria da bala que matou Inocêncio Matos na manifestação do “Dia da Independência”
A equipa que realizou nesta quinta-feira, 26, em Luanda, a segunda autópsia dos restos mortais de Inocêncio Alberto Matos detectou orifícios na cabeça do malogrado que vai de acordo com a versão dos amigos que o socorreram alegando que o mesmo fora baleado pela Polícia Nacional, na Avenida Brasil, não muito distante do Hospital Américo Boavida.
O Club-K descreve que os amigos que carregaram Inocêncio de Matos, descrevem que eles se encontravam no perímetro dos edifício “Tchetchenia” da Cidadela, quando um agente da Polícia Nacional, fez um disparo para o chão, este por sua vez fez ricocheta, e atingiu a parte de baixo do queixo de Inocêncio tendo a bala perfurado e saído de trás. As testemunhas contam que o mesmo terá morrido no local, uma vez que parte do seu crânio estava a sair pelo orifício de trás.
“O policia fez um tiro ao ar e parece que a arma não lhe obedece. Eu de repetente vejo ele a fazer tiro no chão, e estávamos muito próximo dele. A bala entrou por baixo e saiu por cima. Ele fez o tiro pro chão”, disse a testemunha acrescentando que “Ele saiu de lá, com as vistas abertas, sem vida, e inanimado, com os miolos ao caírem para o chão”.
Entretanto, dados pré-eliminares que o Club-K teve acesso, que equipa médica a autopsia nesta quinta-feira, encontrou um orifício na parte direita, da cabeça concretamente entre a boca e o pescoço indicando o trajeto da alegada bala, que terá saído na parte esquerda da cabeça. Foi também notado que Inocêncio ficou com a parte direita dos lábios inflamadas como consequência do efeito da perfuração.
Foi igualmente detectato ferimentos da parte detrás da cabeça que se presume ter sido o efeito da saída bala. Outro ferimento encontrado foi no braço direito que se conjetura ter sido em consequência do arrastamento pelos amigos. O relatório final da autopsia deverá estar concluído antes do final de semana.
No encontro mantido ontem, em Luanda, com a juventude, o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço alegou que na manifestação do dia 11 d Novembro em que morreu Inocêncio de Matos apenas foram usados gás lacrimogênio e jatos de agua. O Chefe de Estado disse ainda que a Polícia não foi autorizada a usar armas de fogo.
Por seu turno, em vídeos em posse do Club-K, os jovens que carregaram o corpo de Inocêncio de Matos no momento dos tiros descrevem que os jovens estavam de joelho e frente a frente com os agentes, e não tinha como haver objetos “contundente” vindo de trás deles para perfurar ou causar ferimento na cabeça do malogrado. Uma testemunha que filmou o episódio a partir de um prédio tem todos os detalhes do momento que Inocêncio Matos apresentou o ocorrido e deverá, em tribunal testemunhar.
De inicio a Polícia Nacional na pessoa do seu comandante provincial, de Luanda, Eduardo Cerqueira havia negado registros de morte na manifestação. Dois dias depois, admitiram mas o porta-voz do comando provincial de Luanda da polícia, Nestor Goubel ao falar a imprensa afastou qualquer responsabilidade dos agentes no assassinato de Inocêncio de Matos, reiterando que a atuação policial foi “legal e legítima”.
A defesa tenciona levar o assunto ao Tribunal para responsabilizar o agente responsável pela morte de Inocêncio e também mover uma ação contra o Estado. A PGR, por sua vez, tentou impedir a defesa em levar um fotografo para fazer imagens do corpo antes da autopsia para anexar ao processo crime contra o Estado angolano, uma medida entendida como “tentativa de obstrução de prova”.
“Eu vi o Polícia que matou o Inocêncio Matos” – diz amigo (mostrando as balas encontradas no chão)
“Ele saiu de lá, com as vistas abertas, sem vida, e inanimado, com os miolos ao caírem para o chão. Eu vi o Policia que que fez isso. Ele estava com uma arma automática. Todos eles faziam tiros ao ar. Acabaram carregador n mas nos não parávamos. Com receio eles tiveram que retirar. Nos na avenida Brasil passamos por dois bloqueio, no terceiro bloqueio, é que o Inocêncio foi atingido”,
“Eu presenciei varias falhas deles,. As armas muita das vezes não disparavam. Eles estavam a correr risco de atingir a eles mesmos ou a nós. Nos estávamos sempre a andar. As vezes ajoelhávamos e as vezes andávamos, para mostrar que vinhamos em paz, com as mãos no ar”.
“O policia fez um tiro ao ar e parece que a arma não lhe obedece. Eu de repente vejo ele a fazer tiro no chão, e estávamos muito próximo dele. A bala entrou por baixo e saiu por cima. Ele fez o tiro pro chão. É impressionante a forma como os policias se protegem. O homem que fez o tiro já não estava lá. Apareceram dois policias sobre o corpo. O de braçadeira vermelha que parecia ser o chefe e o outro com uma arma pequena”.
“Nos vimos o que aconteceu. O Inocêncio estava de joelho. Ele morreu com uma bala incendiada. Isto foi autorizado, porque via-se o receio da Polícia”.