Comissário-chefe exige que os “seus” agentes votem no… MPLA

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O comissário-chefe António Joaquim Fortunato, director nacional dos serviços penitenciários de Angola, órgão sob tutela do Ministério do Interior, está a exigir aos agentes que votem no partido MPLA e em João Lourenço nas eleições gerais que serão realizadas no dia 23 de Agosto do ano em curso.

Por Sedrick de Carvalho*

Adenúncia foi avançada por agentes do Destacamento Especial dos Serviços Prisionais (DESP), que se lembram de ouvir António Fortunato dizer: “Queremos o voto no nosso número 4 e no camarada João Lourenço”.

Não tão admirados, pois “ele fala tanta merda”, os agentes mantiveram-se em prontidão ao longo da formatura, isto na sexta-feira, dia 14, na Escola Nacional de Técnicas Prisionais, no município de Viana, enquanto uns respondiam em sinal afirmativo ao comandante-geral e outros optavam pelo silêncio que, para as fontes, significa rejeição à obrigação feita.

Antes da formatura, contam os agentes, António Fortunato ordenou uma revista para que ninguém ficasse com telemóveis e assim evitar que fosse gravado. O comandante do DESP, superintendente-chefe Manuel Afonso João «Manico», conhecido pelas agressões e outras formas de humilhação a que submete os agentes do destacamento e que aqui já denunciamos, foi quem procedeu à revista.

“Ele é o eterno capataz do Fortunato. Depois daquela denúncia, ficou suspenso algum tempo mas agora voltou e está pior. Agora, desde que ele saiu no Folha 8, telefone é extremamente proibido, e quem for encontrado com telemóvel terá maka grande, e bem grande mesmo”, disseram.

Entre as exigências de votarem no partido MPLA, António Fortunato adiantou também que “não haverá patentes para ninguém neste ano”, tranquilizando os agentes com a promessa de que “o voto no camarada João Lourenço é o certo”.

O discurso propagandístico durou cerca de uma hora. No rol da “falta de coerência deste senhor”, os agentes destacam os maus-tratos e afirmam que, desde que foi nomeado director nacional, “não promoveu agente que não seja familiar dele”.

“Todos os filhos dele são oficiais. A filha entrou na corporação, uma que trabalha no hospital-prisão do São Paulo, e ali mesmo só ela foi promovida. O resto que se dane. Ele faz e desfaz por ser afilhado do ministro [do Interior] Tavares”, lamentam.

António Fortunato é formado em Direito. Nessa qualidade e enquanto comandante dum órgão policial, tem redobrada consciência da disposição constitucional que determina que os agentes de segurança são apartidários, nos termos dos artigos 207.º e 210.º, pelo que o seu apelo ao voto em qualquer partido constitui violação da Constituição.

Porém, António Fortunato é conhecido como zeloso no cumprimento de ordens ilegais, como sucedeu ao encarcerar em celas disciplinares durante três meses os 15 jovens detidos por acusação de golpe de Estado, quando a lei penitenciária determina que naquela situação reclusos só podem ficar no máximo 21 dias e apenas se cometeram alguma infracção ao longo da sua estadia na prisão.

Como “ele é mesmo o rei da palhaçada”, dizem os agentes, no final da formatura de apoio ao MPLA exigiu ainda que todos se abraçassem, e todos assim procederam, a começar pelo superintendente Manico que “abraçou logo o comissário-político Fortunato”.

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