CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE DE JONAS SAVIMBI AFASTAM-NO DAS HONRAS DE ESTADO
Nos próximos dias a UNITA vai tornar público o programa da cerimónia fúnebre do seu fundador. O porta-voz do partido, Alcides Sakala, disse a este semanário que é vontade da UNITA que Jonas Savimbi tenha um enterro “digno”.
Devido às circunstâncias da morte do fundador da UNITA, Jonas Savimbi, o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República deixou claro que o presidente histórico do partido do Galo Negro não vai merecer honras de Estado. Pedro Sebastião fez estas declarações na quarta-feira, 9, em Luanda, quando falava à imprensa, à margem da reunião do Conselho Nacional de Segurança, que avaliou os três meses da Operação Transparência.
“Não se trata aqui de um funeral oficial, até porque todos nós sabemos as circunstâncias em que o Dr. Savimbi morreu”, disse o general aos jornalistas.
Os esclarecimentos foram feitos um mês depois de o chefe de Estado ter dito que a pressão sobre o enterro de Jonas Savimbi está agora ao lado do maior partido da oposição, que nos últimos anos tem estado a reivindicar um “funeral digno” para o primeiro presidente. Segundo Pedro Sebastião, não se pode estabelecer qualquer paralelismo entre o enterro de Jonas Savimbi e o do antigo chefe do Estado-Maior adjunto das Forças Armadas Angolanas, Arlindo Chenda Pena «Ben Ben», falecido na África do Sul a 18 de Outubro de 1998 e cujos restos mortais repousam desde Setembro de 2018 no cemitério da aldeia de Lupitanga, comuna de Chivaulo, no município do Andulo, província do Bié, sua terra natal.
“Não há aqui paralelismo, porque o general Ben Ben, como sabem, pertencia às Forças Armadas Angolanas, o exército nacional, e há todo um ritual recomendado por regulamentos para a realização de funerais a esse nível a um alto oficial como o general Ben Ben. E, como todos sabemos, foi o chefe adjunto do Estado-Maior General das nossas Forças Armadas. Quanto ao Dr. Savimbi, todos sabem as circunstâncias em que ele morreu. Não pertencia à família, digamos assim, governamental, para ter um funeral oficial”, explicou o governante, reiterando que a UNITA solicitou apenas ajuda para a exumação de seu líder.
“E o governo fez a sua parte, no sentido de realizar todos estes procedimentos legais para entregar os restos mortais à família, e esta depois vai dar o tratamento que entender. Mas não que o governo vá fazer um funeral oficial”. Quanto à data para a realização do funeral do líder histórico da UNITA, o general Pedro Sebastião disse que, “daquilo que depende nós, seria para ontem e não para amanhã”.
Para a certificação do cadáver, o governo, de acordo com as declarações do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, o governo vai garantir a realização do teste de ADN. “Aqui mesmo em Angola já se pode fazer isso. A Universidade Agostinho Neto está preparada para isso. A família colocou uma preocupação que nós entendemos, que quer uma contraprova, e foi informada de que estamos disponíveis; foram identificados os familiares e tudo está preparado para a realização do funeral”, garantiu.
Entretanto, ao reagir às declarações do ministro de Estado, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, disse ao Novo Jornal que há um fórum apropriado para abordagens da questão relacionada com a cerimónia fúnebre de Jonas Savimbi. Nas próximas semanas, diz Alcides Sakala, o partido do Galo Negro vai apresentar um programa definitivo para o evento.
“Seja como for, é um passo importante para o país e é um sinal também de aproximação entre os angolanos. A UNITA e a família, sendo as mais interessadas neste processo, têm todo o interesse e vontade que [o funeral] se faça com toda a dignidade que a memória do doutor Savimbi merece. Não só aos olhos dos angolanos e daqueles que o seguiram durante anos, mas também como a própria comunidade internacional. Por isso, vamos dar tempo ao tempo”, disse o porta-voz da UNITA.
MEMÓRIAS: 2019 é o ano da «consagração de Savimbi»
A UNITA, maior força da oposição no país, declarou 2019 como o “ano da consagração da memória do líder histórico e fundador Jonas Savimbi”, morto em combate, em 2002, indicou em comunicado o partido do Galo Negro divulgado na quinta-feira, 10. Segundo o documento, a decisão foi tomada quarta-feira, 9, na primeira reunião deste ano do Secretariado Executivo do Comité Permanente da UNITA, liderada pelo presidente do partido, Isaías Samakuva.
“O Secretariado Geral do partido foi orientado no sentido de dar a devida divulgação à decisão que dedica o ano de 2019 à consagração da memória do Dr. Jonas Malheiro Savimbi”, lê-se no comunicado.
Segundo a Lusa, a decisão surge como “resposta” às críticas feitas a 21 de Dezembro último pelo Presidente João Lourenço, que denunciou o “silêncio” da UNITA quanto à inumação de Savimbi.
Fonte: Novo Jornal | Borralho Ndomba