Chivukuvuku revela que JES pediu a Savimbi parte das Lundas para resolver problemas liquidez nos cofres do Estado

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O ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos pediu à UNITA para ficar com parte do território das Lundas para resolver problemas de liquidez, conta Abel Chivukuvuku na sua biografia, que promete desvendar, este mês, novos factos históricos sobre Angola.

“Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku”, a biografia do ex-dirigente da UNITA, será lançada no dia 15 de novembro, em Luanda, e é escrita por José Eduardo Agualusa, seu amigo, conterrâneo e contemporâneo.

Em entrevista à agência Lusa, o político, que no dia 11 de novembro, dia da Independência de Angola, faz 66 anos, diz que quis contar “acontecimentos bastante extraordinários” da história do seu país às gerações vindouras, e retratar algumas personalidades que, de uma ou de outra maneira, estiveram ligadas a esses momentos.

A escolha do título deste livro, que é o primeiro de outros que pretende lançar nos próximos anos, foi do seu “amigo Agualusa”, que percebeu que a sua vida teve também episódios muito próximos da morte.

“Porque caí num avião duas vezes, estive num carro em [19]92, aqui em Luanda, onde todos morreram, sou o único que saiu vivo, incluindo o vice-presidente da UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola], maior partido da oposição, Jeremias Chitunda, também morreu”, assinalou.

Segundo Abel Chivukuvuku, também conseguiu sair a tempo de uma casa que foi incendiada, e o seu carro foi atacado, em 1998, em Luanda, mas escapou porque não se encontrava na viatura.

“São elementos que levaram o Agualusa a procurar esse título”, disse esta figura de destaque da oposição, que já foi dirigente da UNITA, líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola — Coligação Eleitoral (CASA-CE), e é o atual coordenador do projeto político PRA JA – Servir Angola e coordenador-adjunto da Frente Patriótica Unida (FPU).

Agualusa foi o eleito por ser seu conterrâneo — do Huambo – porque apesar de mais novo, do ponto de vista geracional, é contemporâneo e tinha maior facilidade para escrever esses eventos, e por gostar do seu estilo de escrita, “menos pesado, mais florido, muito mais fácil de ler”.

Agradou também ao biografado o método próprio, “interessante”, que Agualusa encontrou para escrever, uma narrativa não linear, com recurso à prolepse e analepse.

“Por enquanto, penso que é o único nesse modelo, porque as biografias por norma são contadas cronologicamente, falam da família, de onde a pessoa é originária, depois onde nasceu, como cresceu, como estudou, e nós não”, referiu.

O autor preferiu começar pelos “dramáticos” eventos de 1992, em que vários dirigentes da UNITA foram mortos após as primeiras eleições multipartidárias em Angola, para captar melhor a atenção do leitor.

De acordo com o político, Agualusa procurou estabelecer equilíbrios fora de uma ordem cronológica e valorizou também o contexto, descrevendo o Reino do Bailundo, do qual faz parte, e igualmente um pouco da história de Angola, à qual está ligado através de diversos acontecimentos.

“É um livro interessante, acho que é bom, obviamente, depois daqui a mais uns anos haverá um outro [livro], com outros elementos da minha vida que achei não aconselhável introduzir neste primeiro”, contou à Lusa Abel Chivukuvuku, reforçando que “há coisas da história que são um bocado pesadas” e que cada coisa deve ser contada “no seu devido momento”.

Segundo o político, estão na forja outros dois livros, um sobre a sua visão sobre Angola, que pretende publicar em 2026, e outro sobre os elementos da sua vida, que ficaram por contar e dos quais prefere falar quando sair da vida política ativa, altura em que também se vai dedicar a dar palestras em universidades, embora já o faça.

Questionado sobre se o livro vai criar alguma agitação política, Abel Chivukuvuku considerou que haverá “sempre alguns efeitos, em função de determinadas coisas que as pessoas, o público, não sabiam”.

“O público não tinha noção, por exemplo, de como é que correram as negociações para a vice-presidência de Angola. As pessoas têm a ideia que o Dr. [Jonas] Savimbi (líder fundador da UNITA) é que negou [aceitar os resultados], quando é o contrário, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder] é que fez tudo para o Dr. Savimbi não aceitar”, disse.

O leitor vai ficar também a saber que, segundo Abel Chivukuvuku, numa das reuniões de negociações de paz, em Franceville, Gabão, o Presidente José Eduardo dos Santos desabafou com Savimbi que tinha problemas de liquidez nos cofres [do Estado].

“E como a UNITA controlava as zonas diamantíferas das Lundas, o Presidente pediu que o Dr. Savimbi lhe entregasse uma parte do território e o Dr. Savimbi concordou, pegou-se no general Higino [Carneiro] (do MPLA), no general [Altino Sapalo] “Bock” (da UNITA), tiraram as pessoas da UNITA, vieram as pessoas do Governo e a mina foi entregue ao Presidente José Eduardo dos Santos, são coisas que as pessoas não sabem, mas que vêm todas lá espelhadas com o máximo de lucidez, de tranquilidade”, sublinhou.

Um outro episódio que pretende desenvolver numa segunda parte, foi quando Abel Chivukuvuku pediu a José Eduardo dos Santos que o treinasse para o substituir como Presidente, com a promessa de que o iria proteger depois, arrancando dele fortes gargalhadas.

“(Ficou) toda a gente a assistir, o Presidente José Eduardo não era pessoa de rir desalmadamente e estava às gargalhadas”, recordou.

Lusa

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