Carta Aberta ao Procurador-Geral da República de Angola sobre a gestão do Corredor do Lobito
Foi com grande alegria que recebemos a notícia do investimento dos Estados Unidos da América em Angola, nomeadamente no Corredor do Lobito. No entanto, preocupa-nos a falta de transparência no envolvimento da empresa suíça Trafigura e da empresa portuguesa Mota-Engil no consórcio denominado Ferrovia Atlântica do Lobito (LAR) que “ganhou a concessão para gerir o Corredor do Lobito por um período de 30 anos, vencendo o concurso, uma proposta apoiada pela China.
Em maio de 2021, a empresa chinesa China Communications Construction Co., Ltd. (CCCC) (detida pela República Popular da China) entrou no capital social da Mota-Engil, passando a deter uma participação de 32,4%.
Em julho de 2022, o governo angolano selecionou um consórcio Trafigura, Singapura, o grupo de construção português Mota-Engil e o operador privado belga Vecturis para uma concessão de 30 anos para operar e manter o corredor do Lobito, com a opção de prorrogar o contrato por mais 20 anos, superando três empresas estatais chinesas, CITIC, Sinotrans e CR20.
Em outubro de 2022, a Mota Engil adquiriu 20% da mesma empresa pertencente a petrolífera estatal Sonangol através do Instituto Angolano de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) por 23,2 milhões de euros.
Um banco angolano, o Millennium Atlântico, que controlava 29% da empresa de construção, vendeu a sua participação ao Sr. Valdomiro Minoru Dondo. O empresário, nascido no Brasil e também com nacionalidade angolana, tem interesses em vários sectores, como a banca, o imobiliário e as comunicações, e ligações a figuras políticas de relevo.
Caro Sr. Pitta Gróz, quando o Presidente João Lourenço chegou ao poder em 2017, prometeu combater a corrupção em Angola, inclusive dentro do seu partido político, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o que nos fez parecer que teria uma governação com vista a garantir a transparência nos actos da governação, pedimos-lhe que (1) declare o valor pago pelo Sr. Valdomiro Minoru Dondo pelos 29% das acções do Millennium Atlântico, (2) explique como é que a Trafigura – conhecida pelas suas ligações com políticos e altos funcionário público corruptos em Angola e alegações de corrupção em todo o mundo e a Mota-Engil, com as suas misteriosas transacções de acções, assegurarão posições no consórcio do Caminho-de-Ferro Atlântico do Lobito (LAR).
Muito obrigado pelo vosso tempo e consideração, aguardamos com expectativa a vossa resposta às questões acima levantadas.
Com os melhores cumprimentos,
Florindo Chivucute
Diretor Executivo
Friends of Angola