CAMPO DA MORTE: CASO N.º 50: DESESPERADAMENTE EM BUSCA DE UM CORPO
VÍTIMA: Moisés Domingos Capitão “Oficial”, 22 anos, natural de Luanda
DATA: 13 de Abril de 2016
LOCAL: bairro Kilamba-Kiaxi
OCORRÊNCIA:
Oficial chegou a casa por volta das 16h00, depois de mais uma jornada de trabalho como ladrilhador. Mudou de roupa e foi jogar à bola com os amigos na rua. Ao cair da noite, segundo depoimento dos familiares, regressou a casa, tomou banho e foi dormir.
“À meia-noite, vários homens armados arrombaram a porta do quarto dos rapazes. Tiraram o meu irmão Kotchongo, de 21 anos, e perguntaram-lhe se era o Oficial, ao que ele respondeu que não. O Oficial dormia profundamente e arrancaram-no da cama. Nós, familiares, assistimos a tudo”, recorda Lena, irmã da vítima.
Segundo Lena, os raptores que levaram Oficial — sem exibirem qualquer mandado de captura — estacionaram um Toyota Land-Cruiser “com barra cor de laranja e vidros fumados” mesmo diante do portão da residência.
“De manhã muito cedo fomos à Esquadra da Calemba 2. Informaram-nos de que a viatura era deles [ao serviço da Esquadra] e que os operacionais tinham saído com ela por volta das 21h00 do dia anterior e ainda não tinham regressado”, conta Lena.
Entretanto, de acordo com a família, ao segundo dia a Esquadra da Calemba 2 apresentou uma segunda versão do caso, negando o envolvimento no caso. “Disseram-nos depois que no dia em que o meu irmão foi levado ninguém trabalhou. Ao terceiro dia, fomos lá outra vez e à DPIC [Direcção Provincial de Investigação Criminal], e disseram-nos que os operacionais não trabalharam àquela hora.”
Durante três semanas de pesadelo, a família percorreu as esquadras de Calemba, Kilamba Kiaxi, Talatona, Fubu e Kapolo, em busca de uma resposta sobre o paradeiro de Oficial. “Diziam-nos que ele tinha sido raptado por bandidos e os polícias não sabiam de nada.”
À terceira semana, a família recebeu um telefonema de uma prima, residente na zona do Bita, em Viana, a informar que o corpo de Oficial havia sido largado nas matas do Kilamba. “Fomos lá e confirmámos que o corpo era dele. Não havia sinais de tiro nem de espancamentos. O miúdo nunca foi criminoso, nunca esteve detido”, lamenta a irmã.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais