CAMPO DA MORTE: CASO N.º 48: “DISSE APENAS QUE AMAVA MUITO A MINHA MÃE”

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VÍTIMA: Manuel Monteiro, 37 anos, natural do Uíge

DATA: Abril de 2016

LOCAL: bairro do Belo Monte, município de Viana

OCORRÊNCIA:

“O meu pai vendia drogas e assaltava carros”, conta Denilson Monteiro. Manuel Monteiro encontrava-se à porta de casa quando, por volta das 23h00, parou diante de si uma minivan Toyota Hiace de vidros fumados.

De acordo com as declarações prestadas pelo filho, alguns indivíduos, em número não especificado, desceram da viatura e descarregaram dez tiros sobre o peito e o abdómen do seu pai.

“O meu pai era muito grande. Era um kaenche [lutador de grande porte físico].” Denilson e a mãe, que se encontravam no quintal, a poucos passos da porta, acorreram em seu socorro mal notaram o estranho movimento da viatura, o desembarque dos passageiros e a abordagem da vítima.

“Depois dos disparos, aproximámo-nos dele aos gritos, a chorarmos, e ele ainda estava vivo. Disse apenas que amava muito a minha mãe e pediu-lhe para cuidar bem de nós, os três filhos”, testemunha Denilson.

“Ele era bandido. Esteve detido muitas vezes. Sabíamos que ele poderia acabar morto por causa dos seus actos e também vimos que aquela operação não poderia ter sido realizada por bandidos iguais. Tinha de ser a polícia a matá-lo”, acusa.

A área onde vivem é muito isolada, “tipo no fim do mundo”, explica. E pouco depois da operação já lá estava a viatura de recolha de cadáveres afecta ao Serviço de Investigação Criminal. “Só poderia ter sido em coordenação com os que mataram, pois sabiam o local exacto onde isso aconteceu.”

Segundo Denilson, as esquadras locais não têm viaturas de recolha de mortos, as quais só aparecem em bairros como Belo Monte para recolher supostos delinquentes que tenham sido assassinados.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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