CAMPO DA MORTE: CASO N.º 24: MÃE VÊ QUEM MATA O FILHO
VÍTIMA: Kilandamoko João António “Ti Porém”, 26 anos
DATA: 24 de Janeiro de 2017
LOCAL: bairro do Cauelele, município do Cacuaco
OCORRÊNCIA:
A 9 de Dezembro de 2016, Ti Porém regressou a casa, depois de ter cumprido dois anos e sete meses de uma pena de dez anos. Foi um dos beneficiários da Lei da Amnistia.
De acordo com o depoimento da sua mãe, Esperança Mafuta “Makiesse”, Ti Porém tinha de ir três vezes por semana à Esquadra do Cauelele para assinar. Conseguiu emprego numa das subestações de electricidade de Cacuaco e obteve a redução dos dias em que deveria assinar para uma vez por semana.
“No dia em que o mataram, a esquadra recusou-se a aceitar a assinatura dele. Disseram que os homens da investigação criminal ainda não tinham chegado e que já não seria necessário assinar mais”, revela a mãe.
Ti Porém regressou a casa para pegar no seu material e ir ao serviço. Mal atravessou a porta, a mãe ouviu o filho a gritar “Makiesse, sai, vem ver esse senhor que está a matar-me!”
“Fui ver o que se passava e vi um dos homens a disparar três tiros contra o meu filho. Um tiro na mão esquerda, outro na mão direita e o terceiro na cabeça”, testemunha Esperança Mafuta “Makiesse”.
Makiesse identificou o assassino como sendo um dos mais famosos assassinos, “conhecido como Pula-Pula”, que opera a partir da Esquadra do IFA e tem jurisdição sobre a Esquadra do Cauelele.
“O próprio governo achou que tinha de soltar o meu filho. Afinal era para matá-lo assim? Já não tenho o que dizer”, lamenta Makiesse.
Entretanto, Makiesse diz-nos que o pai da vítima, de quem está separada há muitos anos, é agente do Serviço de Migração e Estrangeiros. “O meu ex-marido perguntou aos polícias por que mataram o seu filho, se o governo lhe deu amnistia.”
“O próprio assassino, o Pula-Pula, apareceu em minha casa no óbito e foi ao funeral. Estava sempre rodeado de polícias”, denuncia a mãe.
“É o governo que está a criar a bandidagem. Se matam quem já não quer roubar. O meu filho não fugiu. Disse aos assassinos que não fez nada”, desabafa.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais