CAMPO DA MORTE: CASO N.º 20: POLÍCIA NÃO ACODE GATUNOS
VÍTIMA: “Bad Lilas” (também conhecido como “Brasileiro”), 23 anos
DATA: 3 de Fevereiro de 2017
LOCAL: mercado da Kianda, Kikolo, município de Cacuaco
OCORRÊNCIA:
Em Outubro de 2016, em data não especificada, Bad Lilas esteve detido na Esquadra do Cauelele por suspeita de roubo de telefone e assalto à mão armada. Qual anedota, conforme depoimento da mãe, retiraram-no da cela para que lavasse na rua o carro do comandante. O rapaz fez o trabalho, mas aproveitou a distracção dos agentes para fugir.
Era a sua quarta detenção por suspeita de assalto desde 2013. Segundo a mãe, no dia do seu assassinato, por volta das 9h00, um amigo foi buscá-lo a casa para fazerem “um trabalho”. Antes, fumaram um charro e dirigiram-se ao mercado da Kianda, onde lhes haviam montado a cilada.
De acordo com o testemunho de amigos e presentes, quatro indivíduos, dois em cada motorizada, cercaram-no e obrigaram-no a montar uma das motorizadas, tendo ficado no meio, entre os dois ocupantes iniciais. Levaram-no até ao beco de acesso ao mercado do Kikolo, a poucos metros de distância.
“Bad Lilas viu um agente da Polícia Nacional a passar, conhecido como Chefe Lâmina, e pediu que o acudisse”, conta um dos jovens. “O Chefe Lâmina respondeu-lhe que não acode gatunos.”
“Hoje é o teu último dia”, disse-lhe o seu executor. Foi assim que — conforme depoimentos de transeuntes que acidentalmente circulavam no beco — terminou a vida de Bad Lilas: três tiros na testa, outro no pescoço e o último no abdómen.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais