CAMPO DA MORTE: CASO N.º 18: ABEGA OU DROGBA É IGUAL

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VÍTIMA: Pedro Avelino Eduardo “Abega”, 25 anos

DATA: 4 de Fevereiro de 2017

LOCAL: bairro do Compão, município do Cacuaco

OCORRÊNCIA:

Enquanto bebia cerveja com uns amigos, dois indivíduos aproximaram-se de Pedro “Abega” numa viatura identificada como um Hyundai i10. “Um chamou-me de longe, o outro saiu do carro e disse-me ‘você é o Drogba, vamos te matar agora’.”

As alcunhas e os diminutivos são muito comuns entre os homens angolanos, independentemente da sua condição social. Drogba é provavelmente um nome inspirado no famoso avançado da Costa do Marfim, Didier Drogba, assim como Abega é o nome do lendário futebolista camaronês, que brilhou nos anos 80.

“Eu disse que não. Apresentei o meu documento ao mais alto e maior, para provar que não sou o Drogba. Esse queria acudir-me, mas o outro disse: ‘vamos matar-te à mesma. Tinha uma pistola com silenciador e deu-me um tiro no olho esquerdo”, conta Abega. Depois de cair, o assassino deu-lhe mais um tiro nas costas, que lhe atravessou o abdómen: “Meu irmão, eu nem sei como estou vivo.”

“A minha família, ao receber a notícia, foi reclamar à polícia (Esquadra do Compão) e disseram-lhes que não me podiam remover porque eu era bandido. Os homens do SIC apareceram depois com o carro de remoção de corpos. Deram conta que eu era inocente e deixaram-me ali mesmo no chão a gemer, e foram-se embora”, relata Abega.

Pedro Avelino Eduardo é motorista de profissão e ganha a vida como taxista. Vive com os seus tios. Neste dia trágico, encontrava-se de folga e passara a tarde a lavar a roupa. “Fiquei burro quando me chamaram para me matarem. Estão a matar os bandidos todos do bairro e eu não sou bandido.”

Um dos companheiros que bebiam com ele uma cerveja é agente da Polícia Nacional (PN). Sob anonimato, lamenta que o seu amigo tenha sido alvo do esquadrão da morte: “Eu conheço muito bem o Abega. É um jovem muito calmo e dedicado ao seu trabalho e à família.”

O patrão de Abega, dono da minivan que faz de táxi, aconselhou os jovens a evitarem o local e a não se concentrarem no período da noite, devido à onda de assassinatos de supostos delinquentes no bairro.

“Eu vi o indivíduo a disparar contra a cabeça do Abega. A primeira vez a bala encravou, o colega que o acompanhava na batida também teve a bala encravada. Gritei para o Abega fugir, mas agarraram-no e arrastaram-no para detrás de um autocarro, onde lhe deram os tiros”, conta o agente da PN.

“Corremos e vimo-lo já estendido no chão. O segundo assassino acrescentou- -lhe um tiro nas costas.”

Segundo esta mesma testemunha, os assassinatos no município do Cacuaco são efectuados por bairros, com particular incidência nos do Compão e Cauelele, mas não só. Abega perdeu o olho esquerdo, tem a orelha danificada e perdeu a audição no ouvido esquerdo. Desta vez, contra todas as expectativas, as autoridades que promovem a luta contra a criminalidade através do assassinato não causaram a morte de mais um inocente. Em vez disso, deixaram Pedro Avelino inválido, forçando-o a juntar-se à massa de jovens desempregados.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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