CAMPO DA MORTE: CASO N.º 14: CIRCULAR ATÉ MORRER

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VÍTIMAS: Cristóvão Francisco João “Zé Du”, 26 anos, natural de Luanda; Irineu da Cruz Nogueira, 22 anos; e um terceiro cidadão não identificado

DATA: 1 de Março de 2017

LOCAL: bairro da Boa Fé, município de Viana

OCORRÊNCIA:

Testemunhas oculares afirmam que os três jovens estavam juntos, prestes a beber cerveja e a comer pinchos, na Lanchonete da Amizade, quando foram abordados por quatro indivíduos que se faziam transportar num Hyundai i10, já passava das 15h00. Três dos agentes vestiam calções e o quarto trajava a farda da Polícia Nacional.

“O meu filho perguntou-lhes porque estavam a detê-los. Não responderam. Levaram-nos apenas”, informa Isabel António, mãe de Zé Du. Quando chegou ao local do crime, as vendedeiras locais manifestaram-se solidárias para com Isabel António, partilhando com ela o que viram durante a detenção.

Segundo depoimentos recolhidos no local e confirmados por esta investigação junto de outras fontes, os captores “circularam com os detidos até escurecer. Regressaram ao bairro, levaram-nos para um quintalão perto do local onde os detiveram e mataram-nos ali por volta das 21h00”, relata Tina, irmã de Zé Du.

“O meu filho apanhou três tiros, um dos quais na cabeça”, lamenta Isabel António.

Por sua vez, a mãe de Irineu da Cruz Nogueira, explica que o seu filho “foi morto com dois tiros nas costas e esfaqueado no lado direito do peito”.

Irineu tinha cadastro. Segundo a mãe, passou três anos e seis meses detido, tendo passado pelas esquadras do Contentor (44.ª), Kapalanca, a Comarca Central de Luanda e a Penitenciária de Kakila.

“O meu filho tinha lutado com o filho de um polícia, e este veio à minha casa detê-lo. O meu filho nunca foi julgado. Só foi ouvido uma vez na Prisão de Kakila, depois de eu ter batalhado muito. Ficou em liberdade por apenas seis meses”, refere a mãe.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais