CAMPO DA MORTE: CASO N.º 13: CELEBRAÇÃO DO PRIMEIRO ANO DO CURSO DE DIREITO
VÍTIMA: Ramiro Agostinho António “Mitó”, 24 anos
DATA: 7 de Março de 2017
LOCAL: bairro do Jacinto Tchipa, município de Viana
OCORRÊNCIA:
Quando regressava da Universidade Técnica de Angola (UTANGA), onde recebera a boa notícia de ter transitado para o segundo ano do curso de Direito, Mitó decidiu celebrar com um amigo. Depois de passar rapidamente por casa, foi com esse amigo beber um copo à cantina do bairro.
Por volta das 16h00, enquanto caminhavam de volta a casa, “uma carrinha Toyota Hilux passou por eles e os ocupantes fizeram disparos contra eles [os dois amigos], mas não os atingiram”, conta António Quissanda, primo de Mitó.
Quatro indivíduos, três dos quais armados com pistolas e Kalashnikovs, desceram da carrinha e perseguiram os jovens, que entretanto se haviam posto em fuga. “Eles conseguiram agarrar o Mitó, pediram-lhe para pôr as mãos no ar e deram-lhe um tiro na cabeça e outro no pescoço”, relata o primo.
A execução foi testemunhada por muitos transeuntes e moradores, uma vez que ocorreu numa área bastante movimentada. Uma das residentes reconheceu o assassino como sendo um agente de campo do Serviço de Investigação Criminal que antes participara noutra operação similar.
Informou a família, mas recusou-se a acompanhá-la ao SIC para prestar depoimentos, por temer pela sua vida.
Mitó estivera detido durante três meses na Esquadra do Cantinton e na Comarca de Viana. Segundo a família, envolvera-se numa briga de rua quando acompanhava um amigo que era suspeito de roubo de telemóveis. Ambos foram detidos. “Ele não tem passado de delinquência. Era um jovem medroso”, conta António Quissanda.
A mãe de Mitó é uma alta funcionária do governo provincial do Uíge e do MPLA a nível local. No Comando Municipal de Viana, aonde se dirigiu logo após o assassinato do seu filho, recebeu a informação de que este fora morto por bandidos. “E mais não disse, nem explicou como rapidamente se tinha chegado a tal conclusão sem nenhuma investigação”, refere António Quissanda.
O primo conta ainda que a família também estabeleceu contacto com o delegado provincial do SIC, que negou qualquer envolvimento dos seus operacionais no assassinato, ainda que não tenha investigado o caso.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais