BISPOS ANGOLANOS PEDEM AUTARQUIAS EM SIMULTÂNEO EM TODO PAÍS
Os bispos católicos angolanos pediram hoje a implementação no país de “autarquias supramunicipais ou inframunicipais”, exortando para o “respeito do princípio da igualdade e universalidade”, porque “não se justificam que se façam autarquias nalguns municípios e noutros não”.
A posição está expressa numa nota da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), a que a Lusa teve hoje acesso, na qual os bispos assinalam que o “modelo centralizado falhou” e as autarquias, com as primeiras eleições previstas para 2020, “são uma forma airosa para corrigir as assimetrias regionais”.
Contudo, advertem os bispos católicos, a legislação sobre a institucionalização das autarquias, preparada pelo Governo angolano e que prevê o alargamento gradual a todo o país até 2035, levanta “um problema estruturante”: “Entendemos que se deve respeitar o princípio da igualdade e universalidade. Assim, não se justificam que se façam autarquias locais em alguns municípios e noutros não”.
O pacote legislativo sobre o processo autárquico em Angola, que suporta seis diplomas legais, está em consulta pública até 31 de julho, a cargo do Ministério da Administração do Território e Reforma do Estado, processo que decorre perante as críticas generalizadas dos partidos da oposição, que contestam a implementação gradual, exigindo a realização das primeiras eleições autárquicas, em simultâneo, em todo o país.
De acordo com a CEAST, em vez do gradualismo geográfico, “poderiam ser criadas autarquias supramunicipais e, à medida em que se forem criando condições, as mesmas libertar-se-iam de forma gradual e constituíam-se em autarquias municipais”.
As autarquias supramunicipais, explicam os bispos católicos, deveriam assumir o “critério de proximidade geográfica”, pelo que, assinalam, “o argumento financeiro para criar a autarquia não colhe”.
“Pois pergunta-se como sobrevivem hoje os municípios financeiramente”, questiona o comunicado da CEAST.
Ainda o documento, assinado pelo vice-presidente da CEAST, arcebispo José Manuel Imbamba, o país deveria ensaiar autarquias inframunicipais “com centralidades ou vilas autossuficientes, mesmo sem dimensão de município”, contando “com órgãos descentralizados” para “assegurar a sua governabilidade”.
“O importante é que ninguém se sinta à margem deste processo, sobretudo as comunidades mais pobres, desfavorecidas e esquecidas, que deveriam merecer maior incentivo de crescimento nessa altura, para que as oportunidades sejam iguais ou equiparadas”, sustenta a nota dos bispos angolanos.
Caso contrário, exortam, “estaremos a fomentar as assimetrias que queremos corrigir”.
“Não excluamos. Incluamos. Haja coragem e vontade política”, lê-se.
Como ponto prévio, a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé recorda que “é necessário assegurar estabilidade e continuidade dos processos para além da vida partidária que é efémera”.
“Daí a importância de fazermos prevalecer o espírito de consenso na discussão desses pacotes; fazermos prevalecer as razões de justiça mais do que as razões de estratégia política. Portanto, a força deve estar na justiça, no direito e não na política partidária, na tática”, observa a nota da CEAST.
O grupo de autarquias que vão realizar as próximas eleições em 2020 será definido, na proposta governamental, pela Assembleia Nacional.
Fonte: Angola24Hoas