Ativista Kumi Naidoo é o primeiro africano a liderar a Amnistia Internacional

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Fonte: DW

A Amnistia Internacional tem pela primeira vez um secretário-geral africano. O ativista sul-africano Kumi Naidoo tem um vasto currículo de lutas pela mudança política, justiça social e meio ambiente em todo o mundo.

“Kumi! Sempre a chegar a novas alturas pela humanidade” é apenas um dos muitos comentários ao post na página pessoal de Kumi Naidoo no Facebook sobre a “desafiadora e inesquecível experiência” de escalar o Kilimanjaro.

A iniciativa de escalar a montanha mais alta de África – alguns dias antes de assumir o cargo de secretário-geral da Amnistia Internacional – foi uma chamada de atenção para a falta de produtos de higiene íntima para raparigas em África e, consequentemente, a forma como a menstruação interfere nas actividades escolares. É também mais um ponto numa longa lista de participações enérgicas em ações de luta em vários continentes pelas mudanças políticas, justiça social e proteção do meio ambiente.

“Estamos muito satisfeitos por receber Kumi como o nosso novo secretário-geral. A sua visão e paixão por um mundo justo e pacífico faz dele um líder excepcional para o nosso movimento global”, afirma Mwikali Muthiani, presidente da Direção da Amnistia Internacional, num comunicado na página online da organização.

Alturas não são novidade

Há seis anos, o então diretor-executivo da Greenpeace subiu a uma plataforma petrolífera russa no Árctico, em protesto contra a exploração de jazidas petrolíferas na região. Em 2009, levou a cabo uma greve de fome por melhores condições de vida no Zimbabué – durante o regime do Presidente Robert Mugabe – até assumir a direcção da ONG ambientalista.

Ativistas que conhecem o trabalho de Naidoo dizem que a sua postura de confronto, que remonta à luta contra a opressão racial na África do Sul, nos anos 1970, encaixava bem no perfil da Greenpeace. É visto por muitos como um líder destemido que deu uma energia renovada e um novo rumo à organização com sede em Amesterdão.

Mas é difícil prever se Naidoo, conhecido como “camarada Kumi”, se vai adaptar aos padrões de trabalho da Amnistia ou vice-versa. A organização é muitas vezes criticada por uma alegada tendência pró-ocidental. Israel é um dos principais críticos.

Tal como muitos ativistas sul-africanos da sua geração, Naidoo opõe-se firmemente à forma como Israel trata o povo palestiniano. Como líder interino da organização pan-africana de defesa dos direitos civis Africa Rising, também falou publicamente contra o que classifica como racismo israelita contra os africanos.

Regresso a África

Naidoo abandonou a direcção da Greenpeace em 2015 e regressou a África, onde ajudou a fundar a Africa Rising – uma amálgama de sindicatos, organizações civis e religiosas, políticos, meios de comunicação social e ambientalistas de todo o continente africano que fizeram de Kumi Naidoo o seu líder.

Em 2017, o movimento fez várias viagens de solidariedade, incluindo à Gâmbia. “Temos de perceber que não há limite para aquilo que podemos fazer juntos. Individualmente, cada um dos nossos países – mesmo os mais fortes – não podem enfrentar os Estados Unidos, a China e a União Europeia”, disse Naidoo à emissora pública sul-africana SABC.

O objectivo do movimento está espelhado na Declaração de Kilimanjaro, assinada em Arusha, na Tanzânia, em agosto de 2016. Naidoo descreve o documento como “uma visão muito simples de uma página, do relançamento da narrativa de África, porque os nossos líderes desiludem-nos de diversas formas”.

A 18 de julho de 2018, a causa chegou ao pico da Tanzânia pela mão de Naidoo e da expedição Trek4Mandela. A iniciativa de escalar a montanha mais alta de África foi uma chamada de atenção para a falta de produtos de higiene íntima para raparigas em África e, consequentemente, a forma como a menstruação interfere nas actividades escolares.

A escalada também marcou o centenário do nascimento do ícone anti-apartheid Nelson Mandela. Naidoo tornou-se conhecido como um ativista contra a opressão racial na África do Sul. Diz ser um “disruptor” e já afirmou publicamente que o mundo precisa de mais desobediência civil.

Nasceu na cidade de Durban, em 1965, onde se tornou politicamente activo como adolescente, durante o apartheid. Depois de ser detido várias vezes por violação das leis que favoreciam a minoria branca, partiu para o exílio, no Reino Unido. Licenciado em Oxford, tem um doutoramento em sociologia política.

Tal como muitos exilados, regressou à África do Sul nos anos 1990, com o início do fim do regime de segregação racial. Nos anos seguintes, teve um papel de destaque na organização da sociedade civil pós-apartheid.

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