Associação de Basquetebol de Rua trabalha na descoberta de novos talentos
A Associação de Basquetebol de Rua (ABRUA) faz parte da descoberta de bons atletas de basquetebol em Angola. Esta afirmação não é exagero, mas sim o reconhecimento de uma realidade que o tempo e as quadras têm confirmado: os melhores talentos, muitas vezes, não nascem em grandes academias, mas sim nas ruas, nos bairros e nos campos improvisados. E é exatamente aí que a ABRUA atua – onde o Estado geralmente não chega, e onde o talento mais precisa de ser descoberto.
A importância da ABRUA vai muito além do que os olhos podem ver. É fácil aplaudir um atleta quando ele chega à selecção nacional ou a um clube europeu. Difícil é entender o percurso, os obstáculos e, principalmente, quem esteve ao lado desses jovens no início de tudo. E, nesse início, a ABRUA tem sido uma presença constante, silenciosa, mas profundamente transformadora.
Com quase duas décadas a operar de forma independente, enfrentando falta de recursos, escassez de apoio e, por vezes, até desprezo institucional, a associação conseguiu consolidar-se como uma verdadeira escola de talentos.
Vários nomes do basquetebol angolano – hoje reconhecidos nacional e internacionalmente – tiveram o seu primeiro contacto com o jogo nos treinos abertos, nos torneios de rua e nas clínicas desportivas promovidas pela ABRUA.
Essa descoberta de talentos, porém, não acontece por acaso. Ela nasce do compromisso dos treinadores comunitários, da paixão dos voluntários e da crença de que o desporto pode ser um caminho de transformação social. A ABRUA não apenas ensina fundamentos técnicos. Ela forma cidadãos, molda caráter, fortalece a autoestima e oferece uma alternativa real para milhares de jovens em situação de vulnerabilidade.
Infelizmente, o reconhecimento desse trabalho ainda é limitado. Muitos projetos como a ABRUA vivem à margem das grandes federações e políticas desportivas nacionais. E isso levanta uma pergunta inquietante: quantos talentos angolanos estão a ser perdidos simplesmente porque nasceram no lugar “errado”, longe dos centros de decisão e visibilidade?
O desporto angolano precisa repensar suas prioridades. Investir em projetos como a ABRUA não é caridade, é estratégia. É ali, no coração dos bairros, que está a próxima geração de craques do basquetebol nacional.
E se quisermos voltar a ver Angola brilhar nas competições africanas e mundiais, precisamos apoiar quem está a formar essa base com coragem e quase nenhum recurso.
A ABRUA é mais do que uma associação. É um símbolo de resistência, de amor ao desporto e de crença no potencial da juventude angolana. Que o país saiba reconhecer — e multiplicar — esse exemplo.
Por SJ

