ÁLVARO SOBRINHO ABRE ‘GUERRA’ CONTRA BNA E GRAÚDOS DO MPLA

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CONFLITO. Antigo gestor do ex-Besa ataca accionistas ao justificar sua gestão no banco. E garante que foi “decisão politica” e os accionistas que acabaram com o negócio. BNA, em resposta, fala em “falência transparente”, seguido pelos “accionistas” que acusam sobrinho de fazer “calúnia” e “difamação”. PGR convidada a actuar.

Quatro anos passados desde a liquidação do Banco Espírito Santo Angola (Besa), voltam a correr novas revelações de ‘fonte’ que conhece o negócio da gênese à queda, o banqueiro Álvaro Madaleno Sobrinho. De acordo com o banqueiro, a descontinuidade das actividades do ex-Besa deveu-se a “decisão política”.

A afirmação de Sobrinho afastou, desde logo, a tese do buraco de 488,3 mil milhões de kwanzas (5,7 mil milhões USD) apanhados por uma equipa de administradores provisórios indicados pelo Banco Nacional de Angola (BNA).

Com isso, o banqueiro recolocou à discussão das modalidades com que se guiou a liquidação do ex-Besa, com afirmações que expuseram o banco central de José Massano, o seu governador à altura dos factos, dada a autonomia que lhe confere a lei na gestão dos processos de crise no sistema bancário.

Segundo as contas de Álvaro Sobrinho à TPA, quando deixou o comando do Besa, a 28 de Junho de 2013, a carteira de crédito da entidade estava contabilizada em 6,4 mil milhões de dólares. No ano seguinte, esta margem
salta para 9 mil milhões.

“Não percebo como é que um banco que está falido, com os mesmo activos e passivos, passa uma carteira de crédito de 6 para 9 mil milhões”, interrogou o gestor, contrariando a tese dos peritos do BNA, que analisaram o balanço do Besa, há quatro anos.

Os argumentos de Álvaro Sobrinho de que foi a política que ‘matou’ o banco foram mais longe. Desta vez, são indicados os pesos pesados da política nacional no consulado de José Eduardo dos Santos. Segundo o banqueiro, a informação de que o banco estava falido foi passada pelos accionistas, representados, entre outros, nomeadamente pelos generais Hélder Vieira Dias ‘Kopelipa’, através da Portimil, e o general Leopoldino Nascimento.

De ‘políticos’ no banco não é tudo. Até o então presidente do conselho de administração do Besa, Paulo Kassoma, que já presidira à Assembleia Nacional, depois de ter sido primeiro-ministro de José Eduardo dos Santos, foi arrolado no processo.

Sobrinho queixou-se de ter sido pressionado a assumir responsabilidades sobre os destinos a que se tinha colocado o banco, e apontou o ‘graúdo’ do MPLA Paulo Kassoma como portador desses recados. “O engenheiro Paulo Kassoma chamou-me, porque já o conhecia há algum tempo, e disse-me claramente que, seu eu não aceitasse determinado tipo de condições, poderia ter represálias.”

SOBRINHO “MENTIU”

Num comunicado, os accionistas do ex-Besa rejeitam, entre outras acusações, que a entidade bancária teria falido por razões políticas, argumentando que a insolvência se deveu, sobretudo, a “erros de gestão” e aos dinheiros que o empresário desviou para contas bancárias pessoais.

Para o grupo de accionistas, que compreendia, no período, os nomes de Banco Espírito Santo de Portugal (BES), com 55,71%, e os angolanos da Portmill (24%) e da Geni (18,99%), Álvaro sobrinho “mentiu”, “ao não apresentar os factos tal como eles ocorreram”, na altura. “Mentiu o senhor Álvaro Sobrinho, sobre a
suposta falta de solidariedade dos accionistas quando, em 2012, o Besa,
face ao recurso excessivo ao redesconto
e às diculdades no mercado interbancário, foi objecto de reunião promovida pelo Governo de Angola, representado pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Carlos Maria Feijó, e em que participaram o ministro das Finanças, Dr. Carlos Alberto Lopes, o director da Unidade de Gestão da Dívida Pública do Ministério das Finanças, Dr. Carlos Panzo, os accionistas angolanos e o presidente da Comissão Executiva do Besa”, respondem, no mesmo comunicado em que pedem a intervenção da Procuradoria Geral da República e do BNA e em que listam várias outras “mentiras” de Álvaro Sobrinho.

Muitos dos argumentos que Álvaro Sobrinho avança na sua nova versão sobre a falência do Besa já haviam sido, entretanto, antecipadamente contestados por Rui Guerra, o gestor português que assumiu o banco em Janeiro 2013.

Ouvido na comissão de inquérito parlamentar constitúida, em 2015, em Portugal, no âmbito da investigação dos parlamentares lusos à insolvência do Banco Espírito Santo, Rui Guerra chegou a afirmar que o BES Angola se encontrava numa situação de elevado “risco de crédito”, facto que Sobrinho nega.

Quanto ao questionamento de Álvaro Sobrinho sobre o aumento do stock de crédito em 2014, Rui Guerra explicou aos deputados portugueses, em 2015, que a situação se deveu à configuração do sistema informático do extinto banco que, entre outros factos, contabilizava os juros vencidos como novos créditos concedidos.

BNA CONTRA-ATACA…

Para o BNA, a posição tomada há quatro anos de falir o Besa “visou salvaguardar” o sistema finnanceiro nacional e foi “absolutamente transparente”. Como foi há quatro anos, José Massano garante que medida continua válida. “O que foi dito naquela altura prevalece válido. No essencial, a informação permanece válida”, atirou Massano, na semana passada, um dia depois de os accionistas do Besa terem emitido a sua versão dos factos.

Fonte: Valor Económico | Nelson Rodrigues

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