ACTIVISTAS AMEAÇADOS DE MORTE POR AGENTES DA SEGURANÇA DO ESTADO À PORTA DO PARLAMENTO
Seis activistas foram reprimidos violentamente por membros da Unidade de Guarda Presidencial e agentes da Polícia Nacional quando protestavam defronte ao portão sul da Assembleia Nacional, no passado dia 15 de Outubro, segunda-feira, após o fim do discurso sobre o Estado da Nação proferido pelo presidente da República João Lourenço.
Texto de Nelson Mucazo Euclides
A activista Laurinda Gouveia e os activistas Didi Mwayuma, “Cavalheiro Democrata”, Geraldo Gabriel Dala Mwene Ndala, José da Silva Alfredo e Nelson Mucazo Euclides, protestavam pela materialização dos 500 mil empregos que constam no manifesto eleitoral do MPLA, o fim da brutalidade e violência contra as zungueiras, o fim da impunidade e da corrupção que são dos principais factores responsáveis pela crise que se vive em Angola e pelo desemprego dos jovens.
Os agentes da UGP e da PN receberam todos os cartazes e rasgaram alguns deles, empurrando violentamente os manifestantes para longe da assembleia. Tudo aconteceu à vista de alguns embaixadores, deputados e políticos que se encontravam no portão sul do parlamento. É de destacar a presença do presidente da CASA-CE Abel Chivukuvuku, que assistiu ao início dos protestos e da repressão sem contudo nada fazer ou dizer, apenas observando.
Os activistas entoavam palavras de ordem como: “O trabalho é um direito”, “João Lourenço nos mandou esperar e até agora não nos deu emprego”, “a zunga é fruto do desemprego”, “a polícia é do povo, não é do MPLA”.
De seguida alguns activistas foram levados à 4ª esquadra, de forma mais desumana possível, pois além do protesto exigiam a devolução do telefone de Laurinda Gouveia, que os agentes da polícia haviam recebido e confiscado quando estava a filmar o protesto e a repressão policial, à mesma ocasião em que vários agentes à paisana faziam filmagens.
Laurinda Gouveia, por exemplo, chegou a ser levada a alta velocidade da assembleia até ao viaduto do Zamba 2, pendurada na janela de um dos carros de patrulha com a cabeça e o tronco dentro da viatura e os membros inferiores estavam fora, tal como Cavalheiro Democrata que estava pendurado por cima do capô da viatura policial. Só quando se chegou ao viaduto do Zamba 2 é que os activistas foram colocados no interior da viatura.
Postos na 4ª esquadra, segundo relataram os seis activistas, foram intimidados e ameaçados de morte e desaparecimento, a exemplo de Isaías Cassule e Alves Kamulingue, por agentes que confiscaram o telefone de Laurinda, com as seguintes expressões: “Vocês não têm juízo, vão seguir o caminho dos outros que desapareceram e que deviam vos servir de exemplo. A assembleia não é sítio para se manifestarem, o que foram fazer lá?”, conforme se pode ouvir no áudio gravado discretamente pelos activistas. Os activistas responderam que não tinham receio algum que isso acontecesse, pois é prática recorrente das autoridades angolanas.
Deixando os seis activistas na 4ª esquadra, os agentes saíram com o telefone de Laurinda e apagaram as fotografias, os vídeos e entraram na conta do Facebook dela, que estava ligada, apagando também o vídeo que estava a ser feito em directo, violando sua privacidade.
Segundo relataram os activistas, a cultura da morte, da intimidação e da violência ainda impera em Angola, pois mudou a cara do presidente mas não mudou o regime, nem os agentes de tortura. Além disso, alguns activistas têm recebido chamadas de pessoas estranhas alertando cuidados, e receiam possíveis raptos.
Segundo uma das fontes ligadas aos serviços Secretos, disse a um dos activistas para ter cuidado, porque as suas imagens e os seus nomes soam nas bocas dos homens dos serviços secretos. Mas mesmo assim, os activistas reafirmam que é dever deles continuar a lutar por uma Angola melhor e livre de violência.