CENTENAS DE FAMÍLIAS EM RISCO NO BAIRRO BOA ESPERANÇA III COM A PROGRESSÃO DAS RAVINAS

Compartilhe

Dezenas de famílias encontram-se ao relento desde segunda-feira passada em consequência do desabamento de terra que destruiu casas no bairro Boa Esperança III, sector C, no município de Cacuaco.

Texto de Simão Hossi

Cristóvão Dala, de 46 anos de idade, natural do Kwanza Norte, chegou à localidade em 1982 e ali ocupou um espaço para erguer a sua casa. Afirma que as ravinas começaram a dar os “primeiros sinais tímidos” a partir dos finais da década de 90 e de lá para cá as autoridades pouco ou nada fazem para ver resolvido os problemas de segurança dos moradores nesta condição.

“Várias famílias já abandonaram as suas casas por temerem o pior, tal como vês com os seus próprios olhos [indica as ravinas ao repórter RA], mas o governo mesmo não está a agir como devia, talvez quando isso matar mesmo um bom número de pessoas…”, afirmou Dala, que acusa o anterior responsável da comissão de moradores do bairro de ter privilegiado pessoas que não faziam parte do bairro no primeiro processo de realojamento que levou alguns moradores para zonas seguras.

Já Sebastião Gomes, de 39 anos, que viu a sua casa ser destruída neste último desabamento ocorrido segunda-feira, diz ter chegado no local 14 anos depois que Cristóvão Dala, isto é, 1996, e foi por falta de possibilidades em adquirir um espaço em zona melhor para acomodar a sua família. Sebastião reforça a ideia de Cristóvão Dala dando conta que as ravinas não existiam à altura que se acomodaram no local. Neste momento está abrigado em casa de seu vizinho, localizada há poucos metros de onde desabou a sua casa.

Enquanto isso, João António, jovem de 21 anos de idade, nascido na localidade, teme que a sua casa seja a próxima a ser destruída pela progressão das ravinas, visto que a sua casa está no limite de onde terá terminado o último desabamento.

A Boa Esperança III está dividida em três sectores, nomeadamente os sectores A, B e C, e toda a zona da orla marítima corre o mesmo risco. Durante a nossa reportagem foi possível ver inúmeras casas abandonadas. Existe uma “comissão de moradores” que, segundo os três intervenientes acima, é um órgão representativo do bairro que não têm saído do discurso e promessas de um dia melhor.

Em entrevista a Angop, o administrador municipal de Cacuaco, Augusto José, disse se tratar de problemas naturais, apontando a movimentação de terras devido aos ventos marítimos. O governante disse que já terá feito a chamada de atenção e alertas às famílias afectadas sobre os perigos que pode advir com a persistência de não abandono do local. 87 residências foram cadastradas pela administração municipal, afirmou, isto com o intuito de serem realojados os moradores. O administrador demonstrou incapacidade de revolver a situação, descartando a possibilidade de se construir um morro de retenção para parar a progressão das ravinas, alegando falta de capacidade técnica e financeira para intervir na obra.

Augusto José salientou que se não for feita uma intervenção a nível do governo central a estrada número 100 corre o risco de ser cortada, para além das escolas públicas e privadas, incluindo a administração distrital do Kikolo “está na mira da fúria da natureza”.

O administrador apelou aos moradores que abandonassem urgentemente o local, sem apontar aonde estes possam dirigir-se, muito menos deu sinais do que será feito com as 87 residências já cadastradas em perigo eminente de virem a desabar a qualquer momento, com crianças que brincam perto dos escombros. Os nossos interlocutores garantiram ter vontade de abandonar a área tão logo a administração indique o local seguro para estes viverem.

Leave a Reply