REPÓRTER COMUNITÁRIO SOFRE AGRESSÃO E HUMILHAÇÃO RACISTA EM RESTAURANTE

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Dito Dali | Activista Cívico

Não se pode aceitar nem permitir que a mulatagem e todo tipo de preconceito tenha lugar no nosso país. A mesma força que temos para combater a ditadura e a desigualdade social neste país também deve ser usada no combate ao racismo e todas as formas de abusos contra a maioria negra neste país.

No dia de ontem, 26.08.2018, domingo, eu, Dito Dalí, Massilon Chindombe, Hossi Sonjamba e Rude Samba, fomos ao restaurante “CAFÉ DELL MAR, também conhecido por cocownote, à Ilha de Luanda. Postos no interior do restaurante fomos recebidos por uma jovem que indicou-nos uma mesa por onde nos sentamos. De seguida nos foi presente o menu de preços da comida e bebidas não alcoólicas que iríamos consumir. Antes, o Hossi Sonjamba decide levantar-se para ir ao WC. A ida dele até ao WC, segundo ele, estava a ser seguido por uma senhora branca e por um “mulato” que o abordaram. Os senhores questionavam a presença do Hossi naquele restaurante! O Hossi teve de justificar que esteve acompanhado dos seus amigos mas teve que se levantar para ir ao banheiro antes de comer alguma coisa. Os senhores não acreditaram na explicação dada por Hossi. Então decidiram chamar o corpo de segurança para escorraçar coercivamente o Hossi até ao exterior do restaurante! O “tipo de pessoa” como Hossi só tinha que ser gatuno ou qualquer coisa parecida, menos cliente! Nós não sabíamos o que se estava a passar com o Hossi Sonjamba. Na tentativa de resistir para evitar que não fosse retirado à força do restaurante, sofreu violência física. Nós não sabíamos o que se estava a passar com ele.

Hossi Sonjamba

Só ficamos a saber depois dele ter enviado uma mensagem para mim. “Dito, urgente. Venham aqui fora, tenho problemas sérios”. Saímos todos preocupados para saber na verdade o que estava acontecendo com o nosso companheiro. O Hossi já tinha chamado a polícia que fazia o policiamento naquele perímetro. Juntos, procurámos saber as razões que estiveram na base das agressões e atitudes racistas no nosso próprio país. Um tal “mulato” nojento, por sinal supervisor do referido restaurante, respondeu-nos dizendo que o Hossi não estava em condições de frequentar aquele restaurante da Isabel dos Santos porque a roupa que ele vestiu não estava em condições. Por este motivo foi confundido com alguém que foi para lá assaltar ou roubar fios de OUROS no pescoço de BRANCOS E BRANCAS que ali se encontravam!

Qual é o tipo de roupa que o Hossi usava? O Hossi esteve vestido de uma calça normal, chinelas e uma camisola turke. Eu, Dito Dalí, estava vestido de um par de ténis converse, calça da marca jeans roçado e uma camisola normal de mangas curtas. O Massilon esteve vestido de um calção, chinelos, e uma camisola normal. O Rude Samba, afro-americano, vestia uma camisola da selecção brasileira, calça jeans e sapatilhas. Tendo em conta o final de semana que era normal as pessoas estarem mais relaxadas e à vontade. O carácter e a posição social de uma pessoa não pode ser definido pela roupa e a tez da pele.

Naquele restaurante havia lá muitos brancos e muita “mulatagem”, muitos deles estavam quase mal vestidos, semi nús, outros quase vestiam farrapos lavados. Mas nenhum deles foi abordado nem espancado devido o tipo de vestuários.

O que houve é uma clara manifestação de atitudes racistas e subestimar as nossas capacidades financeiras. Nós não temos dinheiro, sim, mas para comer um peixe e tomar um sumo não íamos conseguir?

Para quem me conhece bem sabe que eu não admito este tipo de comportamento no meu país. Ontem fiquei muito passado com a branca responsável daquele restaurante por ter permitido que os seguranças, negros, batessem o Hossi por causa da roupa. Fiquei bastante revoltado, uma revolta que me levaria a queimar aquele restaurante que foi construído com o nosso dinheiro roubado. Portanto, abriu-se de imediato um processo crime ou participação junto da autoridade competente para que os mentores deste macabro acto sejam devidamente responsabilizados pelo que fizeram com o Hossi Sonjamba. Sou a favor da justiça, da boa convivência e respeito pela dignidade da pessoa humana e animais. O multiculturalismo é necessário no nosso país que deve funcionar dentro da Lei, diálogo, respeito pela riqueza cultural de cada povo para que seja evitado choques de civilizações e actos xenófobos.

Ninguém pode calar a boca diante deste tipo de comportamento. Já não basta a riqueza toda do país que está concentrada e controlada na “mulatagem” ou mulatos e brancos, agora querem atirar-se contra as pessoas? A nossa próxima luta será a favor da divisão da riqueza e terra. Nós não somos contra as pessoas, nós defendemos um país justo, livre, democrático  e uma vida digna para todos os filhos deste país. Não pode haver aqueles que se acham mais pessoas em detrimento dos outros. Essa cena tem que acabar. Se o MPLA e o sádico de José Eduardo dos Santos permitiram que essa desorganização tivesse espaço neste país, nós vamos combater com a mesma proporção ou mais.

Não podem continuar a incentivar os nossos irmãos para irem ou agir contra o seu próprio irmão e filho deste país. Foi por causa do racismo que se cometeu um dos maiores genocídios do mundo (27 de Maio de 1977). Para que um dia não tenhamos mais um 27 de maio, estejamos firmes e determinados no combate contra qualquer preconceito racial e xenófobo neste país. Estamos abertos para receber e conviver com todos os cidadãos do mundo que decidirem vir viver em Angola para a realização da sua vida pessoal e profissional desde que aceitem as regras estabelecidas pela constituição e respeito às nossas culturas e a vida de cada um de nós.

Desenvolvimento colectivo e individual, justiça e riqueza para todos. Um abraço a todos.

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