GOVERNO PROVINCIAL CULPA A CRISE PELO DESAPARECIMENTO DOS URINÓIS
Fonte do Governo Provincial afirma que a empresa gestora dos urinóis ficou sem receber os seus pagamentos durante vários meses e, como consequência, deixou de se responsabilizar pelas unidades espelhadas pela cidade capital.
A escassos metros do edifício do Banco de Comércio e Indústria (BCI), na zona do Baleizão, no coração da cidade de Luanda, uma jovem zungueira caminha em direcção a uma viatura. Sem se importar com os olhares fixados em sua direcção por várias pessoas, em plena luz do dia, pousou a banheira que carregava à cabeça, abriu o fecho da saia, inclinou-se ao lado de uma das rodas de frente do carro e, num ápice, o chão ficou completamente molhado.
O odor provocado pela sua urina e de outras faz tempo, no local começou a atacar de imediato o olfacto de quem por aí passasse. Indagada sobre o motivo que a levou a urinar no sítio, a mulher não deu voltas: “Mijei aí porque não tive outra opção. Os urinóis públicos estão todos estragados”, justificou.
A razão estava do lado da mulher. A poucos metros do local em que se encontrava há uma casa de banho pública que já não funciona há muito tempo. Para constatar o estado dos urinóis públicos, a reportagem do Jornal de Angola efectuou uma ronda pela cidade de Luanda. O resultado foi assustador.
Todos estão inoperantes e, nalguns casos, vandalizados. Por não terem outra opção, os cidadãos estão sujeitos a urinar e a defecar em qualquer lugar, poluindo o ambiente, dada a exposição dos dejectos, o que constitui um atentado à saúde pública.
“Com as casas de banho públicas encerradas, não temos outra saída que não seja urinar nos cantos das paredes”, disse Manuel Patrício, que presta serviços de relações públicas.
À semelhança Manuel Patrício, outros cidadãos, que pediram anonimato, confessaram terem passado pela mesma situação, sempre que se deslocam ao centro e noutras partes da cidade de Luanda. Para eles, o Governo da Província de Luanda devia encontrar, com urgência, uma saída para contornar o actual quadro, que ensombra a imagem da cidade.
Pelo uso das casas de banho, o usuário pagava um valor simbólico, mas não era com o dinheiro daí arrecadado que a empresa Gente Agente vivia. Dependia do que recebia do Governo Provincial
Em função do actual cenário, o Jornal de Angola contactou uma fonte ligada à Comissão Administrativa da Cidade de Luanda que confirmou inoperância dos balneários públicos há já algum tempo. “Este problema não é novo”, asseverou.
Esclareceu que a imobilidade das casas de banho surge desde o momento em que a empresa Gente Agente, a quem foi entregue a gestão dos espaços, abandonou-as, depois de ficar vários meses sem receber do Governo da Província de Luanda os respectivos pagamentos.
“Com a crise económica e financeira, a empresa viu-se impedida de receber os seus pagamentos durante vários meses. Como consequência, deixou de fazer a gestão das casas de banho públicas. É por essa razão que os banheiros estão entregues à sua sorte”, disse.
Embora não tenha revelado o montante, a fonte informou que não se trata de um valor pequeno, mas sim de uma verba considerável. “Não sei qual foi o contrato e quanto o governo da província pagava pelos serviços”, sustentou.
Pelo uso dos urinóis públicos, prosseguiu, o usuário pagava um valor simbólico, mas não era com o dinheiro dai arrecadado que a empresa Gente Agente vivia. Dependia do que recebia do Governo Provincial de Luanda. A fonte diz desconhecer o número exacto de banheiros instalados pelo casco urbano, mas, ainda assim, arrisca-se em dizer que haviam cerca de 30, colocados nos distritos da Maianga e Ingombotas.
Para contornar a situação, avançou a fonte, a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda (CACL) estabeleceu contactos com algumas empresas no sentido de gerirem os balneários, mas estas declinaram o convite, por considerarem o negócio pouco rentável. Caso assumissem tal desafio, a CACL teria de fazer um aumento adicional no pagamento, o que não foi aceite.
Diferente da anterior empresa, uma outra se ofereceu a prestar o mesmo serviço, desde que lhe permitissem colocar ao lado de cada urinório público um quiosque onde pudesse vender produtos diversos.
Os responsável da tal empresa, cujo nome do proprietário e a sigla da instituição não foi revelado, prometeram, segundo a nossa fonte, que caso fosse aceite a proposta, com as receitas que seriam arrecadadas pelos quiosques conseguiria pagar o pessoal que cuidaria da higiene das casas de banho”, argumentou.
A fonte disse que a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda não se pronunciou, apenas pediu ao responsável da empresa para formalizar a proposta.
Incerteza na recondução de novos cargos administrativos
A fonte informou que iniciativas para dar volta à situação das casas de urinóis públicas existem, mas os responsáveis da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda não as consegue executar por se encontrarem na condição de incerteza em relação ao seu futuro. Não sabem se vão ser reconduzidos. Por essa razão, disse o nosso interlocutor, a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda encontra-se num estado de estagnação.
“Eles não conseguem ter iniciativas porque estão dependentes de recondução ou não”, contou a fonte.
Se tivéssemos já um novo presidente da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda ou até se passasse à categoria de administração, com um administrador, explicou a fonte, seria mais fácil encontrar uma solução.
Com a possível indicação de um novo administrador e não de um novo presidente, prosseguiu, permitiria a existência de um interlocutor com competência e poder para orientar e dar soluções aos problemas do município de Luanda, que considera serem muitos.
“É uma questão psicológica. Isso está a condicionar na apresentação de propostas e de solução para alguns problemas do município de Luanda”, assegurou.
Fonte: Jornal de Angola