Dr. Marcolino Moco: “Como combater a corrupção na próxima transição política.”

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Muitos dos problemas que vivemos hoje têm uma mãe: a endémica e entranhada corrupção. Mas enquanto a sua avó, de que pouco se fala, se mantiver viva e influente, de nada valerá “bater no cavalo morto”, como se pode traduzir um dito inglês. Isto vem a propósito da excelente colocação de João Lourenço (JL) sobre esse assunto, como pré-candidato do MPLA às próximas eleições, que serão ainda atípicas (presidenciais e legislativas).

Por Dr. Marcolino Moco

Os defensores da intocabilidade do problema da corrupção, especialmente, quando se refere ao alto nível (porque mandam bater nas mães-zungueiras, aqui em baixo), como é caso de governantes no activo, que são ao mesmo tempo agressivos empresários e algumas vezes suspeitos de graves irregularidades que conseguem branquear, com base na chantagem que o poder de estado lhes proporciona, dentro e fora do país, gostam de sublinhar que a corrupção existe em toda a parte. E, sem se darem conta da contradição em que caiem, dão como exemplo os casos de governantes e ex-governantes a contas com a justiça em outros países. Pois a corrupção existe em todo o lado onde existem homens e mulheres, todos o sabemos, mas em vários lados ela é combatida ou ao menos atenuada com os mecanismos apropriados.
Cimentar novas atitudes será uma forma de imobilizarmos um dos braços da “avozinha” de que falo, o que parece ser a ideia de JL. Mas, como tantas vezes o digo, e não sei o que JL e outros putativos vencedores das próximas eleições pensam e com que engajamento o pretenderiam fazer, não é possível mudar de atitude num sistema em que foi construída, no plano formal e material, toda uma blindagem a favor de um todo-poderoso Presidente da República (seja ele quem for, eleito sem responsabilidade própria), seus parentes, todos que dele se aproximarem como incondicionais servidores e não se sabe por quantos anos. Não há melhor nicho para alimentar a corrupção do que um sistema governativo assim afunilado. Este é braço destro da dita “avozinha”, o mais difícil de imobilizar.
Porque também o cessante presidente tantas vezes falou do combate à corrupção, embora quase sempre em discursos feitos dentro aparelho do seu partido, enquanto JL o fez em frente a população. No entanto, com o sistema por aquele montado, que manda o poder judicial ilibar ou omitir problemas que afectam os seus; faz leis e emenda a já por si atípica Constituição, quando se mostra insuficiente para defender seus interesses; manda “destruir” partidos políticos incómodos da oposição, como a FNLA (não começou já o mesmo com a CASA-CE?) com acórdãos intrometidos e contraditórios; uma comunicação social laudatória e ostensivamente partidária; ordens à polícia para não proteger manifestações pacíficas contra os males da governação e do sistema, pelo contrário, “porrada” e cães “se refilares”; ninguém combaterá a corrupção.

Resumindo, aqui o problema é de nova atitude; mas nova atitude dentro de um novo sistema. Assim, mesmo que a corrupção não deixe de ser tão nociva de um dia para o outro, começaremos a encará-la com realismo. E como há uma contaminação geral, uma camisa de sete varas com muito mais implicações do que falar apenas da corrupção – começamos mal desde 1975 –, que tal voltarmos a falar – como me dizia um amigo – do “pedido de perdão aos mortos e de uma verdadeira reconciliação entre os vivos” (antes ou depois das eleições), em vez de darmos sempre espaço aos que fingem procurar santos onde os há tão poucos, para tudo continuar na mesma?

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