Novo Aeroporto de Luanda: Tecnologia de ponta ignorada levanta suspeitas de sabotagem e corrupção

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Uma denúncia interna aponta para alegadas irregularidades na gestão da área de controlo migratório do Novo Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto, inaugurado recentemente em Luanda. A principal acusação refere-se à exclusão do sistema automatizado de controlo de fronteiras, desenvolvido pela empresa Brithol, considerado por técnicos como um dos mais modernos do mundo.

Segundo fontes próximas ao processo, ouvidos pelo Club-K, o sistema permitiria que o processo de controlo migratório de passageiros fosse concluído em menos de um minuto, utilizando tecnologia de reconhecimento facial e verificação eletrónica de documentos.

Em caso de irregularidade, o equipamento emitiria um sinal luminoso e encaminharia automaticamente o passageiro para atendimento manual por oficiais do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME).

De acordo com a denúncia, o sistema foi completamente funcional e entregue ainda durante a gestão anterior do Ministério do Interior, sob coordenação do então ministro Eugénio Laborinho e do ex-diretor-geral do SME, comissário João António da Costa Dias, antes de este ser exonerado. No entanto, a atual direção do SME teria decidido isolar a área e impedir o uso do sistema, alegadamente por razões administrativas e de gestão.

A Brithol, empresa responsável por vários sistemas tecnológicos do Ministério do Interior — incluindo o SISME (Sistema Integrado do Serviço de Migração e Estrangeiros), que interliga a AGT, Unitel e consulados angolanos — teria enviado cinco cartas oficiais ao SME nos últimos doze meses, pedindo formação técnica para os efetivos policiais e propondo a ativação plena do sistema no novo aeroporto. Contudo, nenhuma das comunicações teria recebido resposta.

Fontes citadas afirmam ainda que a não utilização do sistema automatizado pode estar relacionada com interesses financeiros e disputas internas, uma vez que a exclusão do equipamento abriria espaço para novas adjudicações de contratos. A denúncia alega que esta prática visaria “desmontar” o sistema existente para solicitar novos orçamentos, apresentando as futuras aquisições como “inovações” da atual gestão.

“É um absurdo que um salão de controlo migratório do mais alto nível — que não existe em nenhum outro país — tenha sido excluído do programa de arranque do aeroporto”, refere a fonte, acrescentando que o episódio repete-se em outros sectores do Ministério do Interior, com projetos suspensos ou descontinuados, como o da fábrica de passaportes eletrónicos.

A denúncia conclui com um apelo à intervenção da Presidência da República e dos órgãos de fiscalização do Estado, considerando que se trata de matéria de segurança nacional e que o mau aproveitamento dos equipamentos representa risco para o controlo fronteiriço e prejuízo financeiro para o Estado.

O novo aeroporto, localizado no município de Icolo e Bengo, foi projetado para receber até 15 milhões de passageiros por ano e é considerado uma das maiores infraestruturas aeroportuárias da África Austral. A exclusão de sistemas essenciais pode comprometer sua eficácia e reputação internacional.

Club-K

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