Comissão de Gestão da Fábrica de Cimento CIF é acusada de salários milionários, regalias e má gestão

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Uma série de denúncias graves acusa a comissão de gestão da Fábrica de Cimento CIF – Bom Jesus de má gestão, desvio de fundos e de ter levado a empresa a uma falência técnica. A comissão, nomeada em 2024 pelo ministro do Comércio e Indústria, Rui Minguês, com a missão de reativar a produção de clínquer, é suspeita de ter provocado um prejuízo bilionário aos cofres públicos, avança o  Club-K.

As acusações, que sugerem a necessidade de uma investigação urgente por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), apontam para um cenário de salários exorbitantes e regalias injustificadas, enquanto a produção da fábrica esteve paralisada.

Salários milionários e irregularidades na gestão

Composta por Délcio Silva, Tuneka Lukau e Evaristo Baptista, a comissão de gestão teria recebido, em um ano e oito meses, mais de 1 bilhão de kwanzas em salários e regalias, mesmo sem a fábrica produzir clínquer desde 2023. Para manter as operações, a CIF precisou comprar o material de outras cimenteiras nacionais, como a Cimangola, que teve sua capacidade de exportação afetada.

Entre as irregularidades denunciadas, destaca-se o aumento injustificado do subsídio de Natal e de férias, que passou de 50% para 100%, gerando um custo adicional de aproximadamente 146 milhões de kwanzas. Com essa mudança, os membros da comissão passaram a receber o equivalente a 14 salários anuais. Nos últimos três meses de mandato, cada um teria recebido mais de 60 milhões de kwanzas por mês.

A gestão também é acusada de adquirir veículos de luxo (como Toyota Land Cruiser VX e Lexus) que, ao final do mandato, foram transferidos para os membros da comissão a “custo zero”, levantando suspeitas de apropriação indevida de patrimônio público.

Dívidas, suspeitas de desvios e retaliações

As denúncias indicam que a comissão deixou de pagar dívidas significativas a fornecedores, como a ATEC, a quem deve mais de 1 milhão de dólares. A responsabilidade por esses passivos, agora, recai sobre o Estado angolano.

Há também fortes indícios de desvio de cimento e outros ativos, com a suposta conivência de elementos do Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE) e da diretora chinesa do setor comercial. Um diretor de segurança da fábrica, Osvaldo Martins, teria sido pego em flagrante delito e não sofreu sanções, o que levanta suspeitas de encobrimento.

Em junho, a diretora financeira foi indenizada e enviada para a China, em um ato que é visto como uma tentativa de destruir provas, já que o afastamento aconteceu logo após a adjudicação da fábrica a um novo proprietário.

Irregularidades nas empresas do grupo e revolta de trabalhadores

As acusações estendem-se à CIF Logística e à Fábrica de Cerveja Bela, ambas parte do mesmo grupo. Na cervejaria, uma assistente administrativa sem experiência, Letícia Walelo Makunga, foi nomeada diretora-geral. Ela é apontada como pivô de um esquema de desvio de fundos. A nomeação teria o objetivo de facilitar transferências encobertas de recursos para a cervejaria, que seriam posteriormente sacados e desviados.

A gestão teria deixado três meses de salários em atraso na cervejeira, transferindo a responsabilidade para o novo dono. A revolta dos trabalhadores chegou ao ponto de agredirem os membros da comissão de gestão, que tiveram de fugir e pedir socorro ao Serviço de Investigação Criminal (SIC).

Pedidos de investigação e congelamento de bens

Com o fim do mandato da comissão em 31 de julho, as denúncias exigem que a PGR atue com urgência. A comissão teria inclusive tentado bloquear o pagamento dos salários de agosto dos trabalhadores, exigindo ser incluída na folha de pagamento, mesmo já sem funções executivas.

Recomenda-se a instauração de um processo-crime contra os membros da comissão, o congelamento de seus bens, a realização de uma auditoria independente e a revisão das decisões dos últimos seis meses. O caso é visto como um exemplo de como indivíduos, em nome do Estado, podem se enriquecer à custa do sofrimento dos trabalhadores e da população angolana.

Fonte: Club-K

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