Tráfico de seres humanos causa “clima de terror” em zonas de Angola
Em certas zonas de Angola há “um clima de terror” devido ao tráfico de seres humanos, muitas vezes envolvendo o rapto de crianças.
À Voz de América, o sacerdote da Igreja Católica Abreu Cuvinga considera dramático o fenómeno de trafico de seres humanos.
Nos últimos três anos, foram registados pouco mais de 200 casos de tráfico de seres humanos, com cerca de 50% das vítimas resgatadas e reintegradas às suas famílias, conforme Edvalda dos Santos, diretora nacional dos Direitos Humanos.
O tráfico atinge principalmente os segmentos populacionais mais vulneráveis, como crianças.
Dados das Nações Unidas indicam que Angola “é um país de origem e destino de homens, mulheres e crianças vítimas de tráfico”, sendo a exploração sexual, o trabalho forçado e o tráfico de órgãos as principais formas de abuso.
Embora as áreas fronteiriças sejam as mais afetadas, há relatos de casos em regiões interiores do país.
As crianças são especialmente vulneráveis, sendo frequentemente exploradas em setores como obras públicas, agricultura, trabalho doméstico e na indústria extrativa,
O sacerdote católico Abreu Cuvinga, que trabalha em comunidades vulneráveis, diz que “vivemos num clima de terror e medo, sempre pensando que podemos não escapar do tráfico de seres humanos”.
“Há vulnerabilidade dos órgãos de defesa e segurança, que nunca conseguem controlar os traficantes,” lamenta aquele líder religioso.
Além da exploração de crianças, a organização não governamental de defesa dos direitos humanos “Ame Name Omuno”, que actua na fronteira com a Namíbia, denunciou outras formas de tráfico, envolvendo cidadãos de nacionalidades chinesas, congolenses e libanesas.
Para mitigar a situação, Félix Gaudêncio, responsável pela organização, tem desenvolvido campanhas de sensibilização nas comunidades, incentivando à cultura de denúncia.
O padre e defensor dos direitos humanos da região sul, Pio Wakussanga, também expressa preocupação com a situação.
Ele observa que, embora haja um reconhecimento sobre a diminuição de casos de escravidão moderna como trabalho forçado, antes observada em algumas explorações agrícolas, ainda há um longo caminho a percorrer.
“Antigamente, crianças e adolescentes eram levadas das comunidades para trabalho forçado em fazendas agrícolas, algumas chegavam a ser violadas,” lembra.
Tentativas de contato com o atual titular do Ministério do Interior não foram bem-sucedidas.
A legislação angolana e a Carta Magna dos Direitos Humanos das Nações Unidas definem o tráfico de seres humanos como qualquer ato de recrutamento, transporte, abrigo e rapto de pessoas, utilizando ameaças ou força, podendo resultar em escravidão moderna e tráfico de órgãos.
Em 2023, as autoridades angolanas criaram uma comissão interministerial contra o tráfico de seres humanos, estabelecendo um mecanismo nacional de proteção e assistência às vítimas.
VOA