Luanda: Camponeses manifestam-se na Região Militar contra ocupação de seus terrenos
Dezenas de camponeses, na sua maioria senhoras, protestaram na segunda-feira, 7, na Região Militar Luanda (RML) para exigir o fim da alegada invasão de terrenos por parte de supostos oficiais das Forças Armadas Angolanas (FAA) e da Polícia Nacional (PN), no município de Talatona.
As vítimas voltaram a apontar o nome do comandante da Região Militar de Luanda, tenente general Rui Fernandes Lopes Afonso, que segundo as denunciantes “apadrinha” o comandante da Polícia do Talatona, subcomissário, Joaquim Osvaldo Dadinho de Rosário, “com a mão forte do administrador municipal do Talatona, Rui Duarte”.
As camponesas lamentam a presença constante dos órgãos de defesa e segurança (polícias e militares), com maior realce para o Posto Comando Unificado (PCU), orientados nas operações pelo superintendente-chefe, identificado apenas “Kuala”, o que para elas “é o novo rosto para invasão de terreno das camponesas”.
Na Região Militar de Luanda (RML) superintendente-chefe, “Kuala” afirmou que “a máfia está dentro da Administração Municipal do Talatona”, pois segundo argumentou “o problema não é da Região Militar Luanda”.
Na segunda-feira, 7, Rui Duarte, administrador municipal recebeu um telefonema do coronel Charles, chefe da Repartição da Educação Patriótica da Região Militar Luanda, para que as Forças Armadas Angolanas não sejam envolvidas “na máfia de terrenos porque não é o papel das FAA, apesar do comandante da Região Militar estar apadrinhar”.
Governo Provincial de Luanda pode resolver nos próximos dias conflito que dura há anos
Recentemente, as camponesas deslocaram-se até à sede do Governo Provincial de Luanda (GPL), onde teriam recebido a garantia da devolução dos terrenos reclamados.
A cidadã Flora Francisco, camponesa da sociedade “Konda Marta”, disse que saiu do GPL com esperanças de, nos próximos dias, parcelas serem devolvidos às camponesas, que para ela são as legítimas proprietárias dos espaços ocupados e vendidos por altas patentes das FAA e da Polícia Nacional.
“A secretária do senhor governador disse-nos que o nosso documento ainda não foi despachado, mas Manuel Homem promete ir ao local e dar-vos os terrenos de volta”, disse a anciã, acrescentando que no meio da esperança lhes foi prometida que os supostos invasores, “rostos bastante conhecidos em Luanda, já não farão nenhuma confusão com as camponesas da Konda Marta”, revelou.
Marilena Faria, outra camponesa que disse estar agastada com a situação que passam há mais de cinco anos, sublinhou que “nós estamos muito desanimadas com os órgãos de segurança do município de Talatona e o exército por molestarem sempre as camponesas do distrito do Campo Universitário”.
Lembrou que “quando eles invadiram o espaço vieram com a política de que os o terreno são do Estado, mas fomos vendo, eles se apropriaram do mesmo e estão a construir condomínio, facto que entendemos que, afinal não pertence ao Governo, porque fizeram os seus condomínios, fecharam os quintais, nem deixaram terreno para uma escola e nem para um hospital”, ressaltou.
Entretanto, o director-geral da sociedade “Konda Marta”, Daniel Neto, disse que recorreu a vários órgãos, incluindo os de soberania, como à Assembleia Nacional, às direções das bancadas parlamentares dos partidos políticos com assento no parlamento, mas sem sucesso.
“Pelo sofrimento que as velhas passam diariamente, causado pelos invasores destes espaços, nós não queremos só a visita do governador de Luanda, mas sim, uma solução para estas mamãs”, sublinhou.
O também tenente coronel das FAA, que se manifesta agastado com o cenário que se arrasta há anos, em que os seus funcionários passam por momentos difíceis com agressões e detenções constantes, frisou ser necessária a intervenção dos órgãos de direito.
“Os partidos políticos, os deputados, ministros e os serviços de inteligência interferirem para se pôr fim a esta situação porque as camponesas têm passado, pois são vítimas de invasores de elites do poder que se aproveitam da posição e dos cargos que ocupam para abusarem o povo”, lamentou.