Tenente coronel diz que autores de vandalismos são pessoas infiltradas pelo sistema nas manifestações pacíficas
O porta-voz de camponeses, Daniel Afonso Neto criticou o posicionamento de determinados políticos, líderes religiosos e membros da sociedade civil, que teriam “enaltecido” a acção da Polícia Nacional, que usou a força desproporcional contra a greve dos taxistas em Luanda e noutras regiões do país, que depois resvalou para supostos actos de “vandalismo” e pilhagem de lojas”.
O também tenente coronel das Forças Armadas Angolanas (FAA), lembrou as declarações recentes proferidas pelo Presidente da República, João Lourenço, que citando a Constituição, referiu que “a manifestação é um acto legal e a Polícia Nacional está aí para proteger os manifestantes”, mas segundo Daniel Neto, “não é o que acontece em Angola, onde a polícia vai às manifestações para boicotar e reprimir, num cenário em que o Chefe do Estado diz uma coisa e a polícia cria a sua versão”. “O que cria o vandalismo é o povo ou é a polícia?, questionou.
Segundo ainda o porta-voz dos camponeses da empresa Konda Marta, “o povo está a ser condenado por entidades que devia os defender”, tendo recordado que “quantas vezes, denunciamos as demolições de residências da população pela Polícia Nacional com a ordem do comandante Geral, comissário-chefe, Francisco Monteiro Ribas da Silva, em a ordem do Tribunal, deixando várias famílias sem abrigo”.
Em nota enviada ao Club-K, Daniel Neto sustentou que, diante do “vandalismo” das autoridades policiais contra pacatos cidadãos camponeses, “nunca houve um Decreto Presidencial para socorrer esta população, mas para os estrangeiros o Governo vai ajudar os estabelecimentos, que foram vítimas do confronto entre a polícia, que viola a Constituição e a população que reivindica o seus direitos”.
Lembrou a morte do jovem Alves Benjamim, supostamente morto por efectivos da Polícia Nacional, alegadamente “amando do Francisco Ribas, na tentativa de expropriar terreno no município da Camama, nas vestes de comandante da Polícia de Luanda, que várias vezes, denunciamos na imprensa e nas redes sociais, mas que continua impune, mesmo com uma queixa-crime movida no DINIAP, nada acontece, devido a tráfico de influência”.
O PCA da Konda Marta entende que “os que criam vandalismo não são manifestantes, mas sim, infiltrados nas marchas, conforme denunciou o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA)”. “É um esquema bem montado, por isso é que muitos estão a felicitar a polícia pelos assassinatos de cidadãos”, disse Daniel Neto.
O tenente coronel das FAA revela que, “sempre que há uma marcha pacífica, todos os órgãos de inteligência militares são chamados para fazer parte da manifestação com instruções expressas, no sentido de que, antes do destino dos manifestantes, eles que criam vandalismo para depois atribuir a culpa aos manifestantes e seus organizadores tal como está a acontecer com o vice-presidente da ANATA”.
O uso da força policial durante os tumultos resultou na morte de mais de 22 cidadãos, incluindo um efectivo da Polícia Nacional, de acordo com os dados das autoridades, que falam em mais de 200 feridos e mais de mil detidos, no decorrer dos protestos que se registaram nos dias 28, 29 e 30 de Julho, em Luanda, Bengo, Malanje, Huambo e Benguela.

