PRIMEIRO ANO DE JOÃO LOURENÇO: CIDADÃS E CIDADÃOS FALAM SOBRE EFEITOS DA GOVERNAÇÃO
João Gonçalves Manuel Lourenço tomou posse como presidente de Angola a 26 de Setembro de 2017, pondo fim ao longo reinado de José Eduardo dos Santos que ficou 38 anos no poder, onde chegou em 1979 após a morte do primeiro presidente do país, António Agostinho Neto.
Texto de Simão Hossi | Mensageiro Andrade | Pinto Muxima | Jesus Domingos
Já não é o «Bochecha» nem o «Mimoso», pois foi apelidado de JLo, abreviação igual a da cantora porto-riquenha-norte-americana Jennifer Lopez “JLo”. João Lourenço passou também a ser conhecido por “O Exonerador Implacável”, lembrando o filme “Exterminador”, pela velocidade em exonerar personalidades tidas como intocáveis, em que se destacam os filhos do ex-presidente, nomeadamente Isabel dos Santos, da Sonangol, e José Filomeno dos Santos, do Fundo Soberano, este detido preventivamente segunda-feira, 24, juntamente com o amigo e sócio Jean-Claude Bastos de Morais.
Das exonerações e nomeações fica claro que João Lourenço tem montado um governo à sua imagem, ou seja, tem alinhado as peças do tabuleiro da governação de forma que correspondam aos seus desígnios, sobretudo agora que acumula a presidência da República e do partido MPLA, depois de um estrondoso congresso de substituição de JES.
Para marcar o primeiro ano de governação, a Rádio Angola foi à rua questionar as cidadãs e cidadãos sobre o que influenciou em suas vidas esse arranque de João Lourenço, visto ser as questões sociais que mais fustigam diariamente o povo.
TAXISTAS DE LUANDA
Questionado sobre o que mudou na relação taxistas-agentes de trânsito no que concerne à exigência de gasosa, corrupção na Polícia Nacional, Moisés Bumba, 26 anos de idade, taxista normalmente na rota Kikolo-São Paulo e vice-versa, diz: “Neste um ano de João Lourenço nota-se uma ligeira mudança na relação entre a classe dos taxistas e os policiais de trânsito que já não têm sido abusivos nas suas práticas quando estão perante uma suposta infracção do condutor”.
Adão Francisco, 30 anos de idade, taxista na rota São Paulo-Cassequel: “Tem havido um ligeiro melhoramento em alguns pontos da cidade, como nas zonas da Maianga e Ingombotas. Acho que esta mudança só foi possível por terem feito uma mudança dos antigos para os novos agentes de trânsito, mas no Sambizanga não, infelizmente, e continuam a ser os mesmos da 9ª esquadra que têm os mesmos vícios de pedir gasosa”.
José Mwekalia, mais conhecido como Duplex, tem 25 anos de idade, natural da província do Huambo, que faz a rota Kianda-Vila de Cacuaco e Sabadão-Funda, diz: Nos últimos 12 meses a gasosa diminuiu”.
PREÇO DO PÃO SOBE NO LUBANGO
O preço do pão normal no município do Lubango, província da Huíla, passou de 15 Kwanzas para 25 Kzs e 30 Kzs em alguns pontos. Responsáveis de padarias dizem que subiu porque o preço da farinha de trigo também subiu, e salientaram que “gastamos muito e ganhamos pouco”. Contactados, munícipes apontam essa subida como um aspecto negativo nesse primeiro ano de governação de João Lourenço.
Catarina João, senhora de 55 anos de idade, exclamou: “Nós já estávamos a pensar que as coisas estão a mudar afinal o pão subiu mais!”. Já Fernando Ndala disse: “Agora o pão é 25 e algumas coisas também, e assim será difícil matabichar como estávamos acostumados”.
Para António Muteca, o aumento do preço do pão “é muito mal mas a população já está acostumada com essas brincadeiras de o governo não fazer nada”, e acrescentou: “Estamos a exonerar para piorar invés de melhorar, e se melhorar o que está bom e corrigir o que está mal é assim, então deixa só”.
Joana da Glória, mãe de dez filhos, disse: “Entre comprar fuba para o almoço e pão, prefiro a fuba e os filhos ficarem sem o precioso matabicho porque esse preço não facilita, por isso vamos continuar a fazer os nossos bolinhos para substituir o pão”.
INTOLERÂNCIA POLÍTICA CONTINUA NO BOCOIO
A integridade física e segurança constam dos direitos constitucionais para todos as cidadãs e cidadãos. Entretanto, no município do Bocoio, em Benguela, os actos de intolerância política protagonizados por agentes da Polícia Nacional e militantes do partido MPLA contra os que suspeitam ser militante ou simpatizante da UNITA continuam.
João Lucas, moradores do município do Bocoio, realçou que “no princípio as intolerâncias tinham parado, mas já recomeçaram, e tanto aqui como no município do Balombo chegaram a envenenar a água dos poços, morreram vizinhos até”.
O cidadão Graças lamentou que, “infelizmente, tirando as exonerações, nada mais consigo verificar que talvez tenha novo rumo. Os hospitais continuam sem medicamentos, as mortes por falta de médicos e medicamentos são frequentes, os produtos da primeira necessidade estão tão altíssimos enquanto a cerveja continua a 100 kz, etc. Honestamente falando, nada mudou, talvez os outros estão a ver. A intolerância política continua, só mudaram de estratégia para acalmar os ânimos. Há nas aldeias tipos de pratos envenenados que estão a circular em todo os cantos dos municípios de Benguela que estão a vitimar as pessoas. Esperamos apenas mortes neste país”.
Porém, o morador Quintino Chindembele afirmou: “Nunca mais vimos os dois partidos lutarem porque aqui no Bocoio é muito mais o MPLA e UNITA que têm lutado. Mas desde que o país tem novo PR ainda nunca houve mais confusão”.
Já João Marcial reconheceu que “alguma coisa mudou porque temos a liberdade de expressão, e ainda esperamos que o Executivo continue a melhorar o que está bem e corrigir o que está mal. Quanto a intolerância, ainda está tudo calmo, talvez eu esteja um pouco desactualizado”.
Tomás Dumbo, outro morador, faz um balanço negativo, argumentando que “o povo não está à espera apenas das exonerações sem julgamentos dos gatunos do Estado. E ainda nem estão a conseguir colocar nas prisões todos os criminosos que faliram o país”. Para sustentar o “balanço negativo” frisou que “neste município o MPLA acha que se parar de insultar, perseguir ou matar os críticos perde fama. Estes dias se fala de venenos nos municípios do Balombo, Cubal, Bocoio e outros municípios que ainda não detectamos. Há também pratos que apareceram nas aldeias todos envenenados. Resumindo e concluindo, dou nota 0,5 a governação do João Lourenço”.
PROFESSORES: AINDA NÃO HOUVE MUDANÇA NA EDUCAÇÃO
Contactados, professores na província da Huíla falaram sobre a actual situação laboral na educação desde que João Lourenço tomou posse como presidente.
A professora Ana Bartolomeu, colocada na comuna da Huíla, escola número 176, disse que ainda não houve mudanças na educação e que os problemas continuam a ser os mesmos. “Não se verificou ainda nenhuma melhoria mas também não piorou, os problemas que enfrentavam na governação anterior são os mesmos que continuamos a enfrentar”, afirmou, tendo reclamado que “o salário não dá mesmo para fazer nada, o preço da cesta básica aumentou, as dificuldades aumentaram, mas o salário nunca aumenta”.
Já o professor Luciano Cordeiro Inês Guilherme, funcionário há 8 anos do ministério da Educação, adstrito à escola Nginga Mbandi, comuna do Hoque, explicou que a actual situação tem causado desmotivação quase total, sobretudo devido à questão remuneratória.
“Os salários já não são compatíveis com o nível de vida de hoje, com os custos actuais, hoje os professores ganham a metade do que ganhavam quando começaram trabalhar, porque os preços subiram e muitos deles trabalham distantes, o Estado não cobre as despesas de transporte e não há mínimas condições de trabalho, não há laboratórios, não há bibliotecas e livrarias, que é um trabalho muito desgastante, e muitos de nós trabalhamos só já por amor a camisola”, disse o professor.
Aguinaldo Araújo, funcionário há dez anos, salientou que “a situação continua na mesma”, inclusive “há uma interferência excessiva do partido MPLA nos assuntos internos da escola, fazendo com que haja choques nas situações laborais”. Apontou esse facto como um exemplo de que nesse um ano de João Lourenço “o sector da educação não notou absolutamente nenhuma mudança, apesar de muitas promessas que fez”. Quanto ao acordo entre o sindicato dos professores (SINPROF) e o ministério da Educação, revelou que “já estamos a ver algumas fintas porque a ministra emitiu documentos fora dos prazos”.
Angelina José Violeta, há 11 anos professora, disse que a situação do sector “está mesmo péssima”. “Os professores já não têm motivação, o mau pagamento dos professores, até agora, mesmo na governação do João Lourenço, não se está resolver e continuam a bater na mesma tecla como no tempo do ex-presidente José Eduardo dos Santos”, disse a professora.
Manuel Eduardo Coelho Gomes, outro professor, destacou “algumas melhorias no que concerne a colaboração entre o ministério e o sindicato, visto que nos anos anteriores havia uma percepção negativa entre o sindicato e o ministério quando se tentava reclamar alguma coisa, coisas que já não acontecem agora, agora há mais liberdade de expressão, há mais liberdade de reclamação, as ameaças aos professores diminuíram, agora já não se reprime professores que decidem marchar, professores que decidem criticar quando alguma coisa está errada, já não se mostram hostis aos professores, já se deixa os professores gozarem dos seus direitos, já se organiza manifestação à vontade”. Entretanto, como os anteriores colegas, disse que “as condições de trabalhos continuam precárias, os salários continuam os mesmos, ainda se continua com o problema da falta de actualização de categorias e promoções de professores antigos, a única mudança que houve é apenas que concerne as liberdades”.