Presidente da CEAST lança duras críticas aos políticos angolanos
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) criticou asperamente os políticos angolanos por continuarem a instigar ao ódio e a divisão, numa altura em que aumentam as desigualdades económicas, o desemprego e o número crescente de crianças fora do sistema de ensino.
Ao falar na abertura da primeira plenária anual da conferência, na segunda-feira, 24, em Luanda, Dom José Manuel Imbamba acusou os políticos angolanos de estarem amarrados a “discursos políticos que não inspiram, não motivam, nem galvanizam, porque continuam a fazer de nós reféns do nosso passado inglório”.
“Insistem na instigação do ódio, da divisão, da exclusão, da partidarização da história e do fixismo político e ideológico”, disse o prelado para quem “enquanto nos mantivermos sempre em linhas paralelas, até nos assuntos mais nobres de Estado, nunca desfrutaremos os benesses da nossa independência” porque “estaremos sempre a gravitar na nossa miséria humana, social, política, econômica, religiosa e cultural”.
Dom Manuel Imbamba exortou os angolanos a “redescobrir e reinventar a mística da política, que esteja sempre ao serviço desinteressado do bem comum e da felicidade dos cidadãos”.
O presidente da CEAST sublinhou que, a juntar-se a esses discursos “se juntam os altos níveis de desigualdade económica, com grande disparidade entre os mais ricos, cujo número se vai reduzindo progressivamente, e, os mais pobres, cujo número não cessa de aumentar”.
Aquele líder católico também criticou os escândalos financeiros nas instituições públicas, apontando uma grave crise de ética e patriotismo.
“Todas estas situações geram um clima de desconfiança, incerteza e desconforto, revelam uma gravíssima crise da ética e do patriotismo.” concluiu Dom Manuel Imbamba.
A posição da CEAST gerou reações divergentes
O jurista Simão Gomes aplaude a postura da igreja e reforça que a crítica dos bispos é pertinente diante do cenário social do país.
“Se olharmos para os escândalos financeiros nas instituições públicas, isso vem, de certa forma, agudizar ainda mais este número de pobres em Angola. E os fazedores de políticas, ou seja, os nossos políticos, fazem vistas de mercador a este assunto” , afirma Gomes.
O também jurista e comentador Mabanza Kambaca discorda da opinião da CEAST afirma que enquanto Igreja devia única e simplesmente se focar em questões religiosas.
“A igreja, como parceira do Estado, teria a grande moral de poder, ao invés de atacar discursos de políticos, atacar os problemas que fazem com que o país esteja refém deste passado, porque as igrejas também têm uma cota parte da culpa neste retrocesso a que se referem no que toca ao desenvolvimento do país como é o nosso”, aponta Kambaca.
Aquele comentador acrescenta ainda que “do lado do Estado tem-se vindo a verificar um grande esforço no que toca, sobretudo, à reconciliação nacional, no que toca ao combate contra a pobreza, no que toca ao combate contra a corrupção”.
No entanto, acrescenta que “não temos vindo a verificar, da parte da igreja, um esforço enorme no que toca ao combate a todos os males .
A plenária da CEAST prossegue até o dia 28 de fevereiro, com discussões sobre o futuro da igreja e temas como a proteção de menores e pessoas vulneráveis.
VOA