POLÍCIA VOLTA A FAZER USO EXCESSIVO DA FORÇA E FAZ DUAS VÍTIMAS EM LUANDA
Já estão detidos dois agentes da Polícia Nacional, afectos à divisão de Viana, acusados de matar à queima-roupa Doroteia Baptista Lopes, de 35 anos, e ferir ainda outros três populares. O incidente ocorreu quarta-feira.
Um conflito de terra culminou esta semana com a morte de uma cidadã que em vida se chamou Doroteia Baptista Lopes, de 35 anos, vítima de disparos de armas de fogo, supostamente efectuados por agentes da Polícia Nacional que deixaram igualmente feridos outros três cidadãos.
A Polícia confirma o episódio e diz que o assunto está ser investigado. Moradores ouvidos pelo Novo Jornal disseram que os agentes da Polícia Nacional chegaram ao bairro 17 de Dezembro, no Km 30, por volta das 10h00 da manhã, fazendo-se transportar em cinco viaturas da corporação, totalmente munidos de armas, e obrigaram os moradores a abandonar o local.
Rafael Muassesu, da comissão de moradores, que presenciou a cena, garantiu que os moradores são os legítimos proprietários dos espaços onde habitam, contrariando assim um comunicado da Polícia que, horas depois do assassinato, justificava à “triste” intervenção dos agentes policiais numa invasão de terrenos naquele local. “Não invadimos os terrenos da Zona Económica Especial como a Polícia afirma. Como é que vamos invadir o espaço onde vivemos? Este bairro existe desde o tempo colonial e chamava-se Terra Nova de Cima, e o governo não nos pode tirar daqui à toa, como se nós não fizéssemos parte deste país”.
O coordenador da comissão de moradores explicou que, um dia depois do assassinato de sua vizinha, os responsáveis do bairro foram obrigados a assinar um documento na presença do administrador adjunto de Viana para a Área Técnica e Infra-estruturas, Fernando Binge, que os obrigava a abandonar o bairro sob pena de irem à cadeia. “Estão a obrigar-nos a mobilizar os vizinhos para abandonarmos o bairro de forma voluntária”, denunciou.
Catariana Fineza, de 46 anos, também é uma das moradoras do bairro 17 de Dezembro e mostra-se desgostosa com a atitude do actual administrador municipal de Viana, André Soma, que, no seu entender, só quer criar dificuldades aos munícipes. “Desde que chegou, só quer desalojar os populares. Começou no bairro Kitondo II, no distrito do Zango III”.
Uma fonte da Polícia, contactada pelo NJ, disse que, nos exames directos feitos ao cadáver, foram constatadas três perfurações de bala de AKM, sendo que, para a fonte, as duas AKM que se encontravam em posse dos polícias estão sem vestígios de disparos. “Só mesmo uma perícia é que vai determinar quem foi que disparou, porque as munições recolhidas no local não conferem com as armas dos polícias”, acrescentou ainda que, no local, apenas se encontravam três agentes da polícia e sem viaturas.
Zona Económica Especial: Polícia instaura inquérito sobre morte de dois cidadãos
O Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional instaurou um inquérito para apurar as responsabilidades pela morte de dois cidadãos e o ferimento grave de outros dois, na sequência de uma intervenção policial na Zona Económica Especial (ZEE).
O Comando esclarece que o incidente ocorreu na sequência de uma tentativa de invasão de terrenos na ZEE, sendo que o confronto entre as forças policiais afectas à área e a população resultou em disparos de arma de fogo, com o intuito de dispersar a multidão.
A morte à queima-roupa de Doroteia Baptista Lopes, natural do Uíge, não é o primeiro caso das demolições levadas a cabo em Luanda. Em 2016, o adolescente Rufino, de 14 anos, também foi morto nas mesmas circunstâncias quando tentava impedir que a casa onde vivia com a família fosse demolida. De forma a silenciar o adolescente, um militar disparou contra ele.
Também não é o primeiro caso em que agentes da PN são acusados de matar à queima-roupa cidadãos. Em Março deste ano, Laerson Carlos Afonso, 18 anos, foi morto com um tiro no peito, supostamente por um agente da polícia no bairro do São Paulo, distrito do Sambizanga, por volta das 2h00 da manhã.
Também este ano o comandante do distrito do Patriota, superintendente João Lourenço Neto, de 50 anos, foi acusado de assassinar a tiro o seu colega e amigo Fernando António, de 53 anos, e de ferir outros dois colegas.
Fonte: Novo Jornal