POLÍCIA REPRIME MARCHA CONTRA VIOLÊNCIA ÀS ZUNGUEIRAS EM LUANDA
Mais de três dezenas de jovens e zungueiras marcharam sábado, 25 de Agosto, contra a violência policial sobre vendedoras e vendedores ambulantes em Luanda. A marcha, prevista para iniciar às 11:30, começou uma hora depois devido aos constrangimentos causados pela Polícia Nacional.
Texto de Nelson Euclides Mucazo
A reportagem Rádio Angola esteve presente e conversou com alguns organizadores da marcha. Explicando o atraso da marcha, disseram que a partir do local de concentração havia muitos agentes da Polícia Nacional, que receberam os dísticos aos participantes, pelo que tiveram de voltar a comprar e escrever palavras de ordem no local da marcha.
A PN alegava que não havia condições para a realização da marcha, pelo que “pedi explicações e me fiz entender”, conta Osvaldo Caholo, um dos organizadores e integrante do conhecido processo «15+2». “Foi assim que o comandante pediu-me que tinha de assinar um termo de responsabilidade, visto que não tinham homens suficientes”, acrescentou.
Foi nessa altura que “decidimos ir comprar cartolinas e marcadores para a realização da marcha”. Alguns metros marchados e mais uma vez foram interpelados pela polícia, desta vez pouco disponíveis para dialogar.
Sem hesitar, os agentes desferiram golpes de porretes contra os manifestantes, agressão que resultou em ferimento no braço directo de Osvaldo Caholo.
“Mas não sou daqueles que ficam aí expondo. Muitos outros companheiros levaram cassetetes da polícia, mas a persistência foi determinante”, disse Osvaldo, que confirma ter sido apresentada aos agentes a carta assinada pelo governo provincial de Luanda como prova de que a marcha cumpriu os trâmites legais, “mas mesmo assim não queriam saber de nada”.
Osvaldo ficou sem o telemóvel no decurso da violência policial, mas acusa os agentes de lhe terem roubado o aparelho.
“Eu estava no meio da polícia, na troca de “mimos”, foi nesta altura que o meu telemóvel desapareceu. Os bolsos do calção que coloquei são curtos, o telemóvel fica com uma boa parte de fora. Qualquer pessoa poderia puxar”, enfatiza, e lembra que “entrei no cordão de segurança da polícia”.
Se há poder, há resistência, disse Donito Carlos, outro organizador. Para este a marcha foi mais uma dos vários actos de resistência, pelo que diz que “o lugar de escravo está sempre à disposição de qualquer homem fraco, então a resistência é um processo permanente. Além disso não passou de um acto de cidadania”.
Aponta a polícia como responsável pela violência que se instalou, e realçou que “fizemos a nossa parte e demos o nosso exemplo”. Ao finalizar, frisou que “o país é de todos nós, Angola não tem dono. E as zungueiras são parte desta Angola e merecem respeito, e não serem violentadas como tem sido”.