ONDJANGO FEMINISTA REPUDIA MORTE DE MULHER ZUNGUEIRA NO ROCHA PINTO
Desde o Ondjango Feminista, tornamos público o nosso repúdio ao acto de violência protagonizado por um agente da Polícia Nacional de Angola que culminou com a morte de uma mulher zungueira. Aconteceu ontem, dia 12 de Março, no bairro do Rocha Pinto, na província de Luanda.
Este acto de violência desencadeou reacções por parte da população que se revoltou contra a actuação da polícia. Entendemos ser importante reflectir no facto de que acções como esta, por parte de um órgão do Estado que tem como dever garantir a segurança dos cidadãos, são totalmente reprováveis e em absolutamente nada contribuem para manter e resgatar a tão proclamada ordem pública. Pelo contrário, provocam revolta e contestação da parte da população que se vê desamparada por aqueles que a deviam proteger e assegurar. Não podemos fechar os olhos e passar ao lado em situações como esta, não podemos tolerar esse tipo de repressão.
A Polícia Nacional precisa responsabilizar-se e deixar de culpar a população, como deixa a entender o comunicado feito na sua página do Facebook. Vários cidadãos, na página, em resposta a este comunicado relatam o facto de não se sentirem seguros e da necessidade de humanização e de melhoramento da actuação dos agentes deste órgão do Estado. É importante ouvir as várias vozes de angolanas e angolanos que dizem não se sentirem seguras com os posicionamentos da Polícia. Estas vozes são um claro indicativo de que se precisa melhorar.
Ainda, é de extrema importância pensarmos no tratamento que damos às vítimas, na forma como não as nomeamos, não as identificamos pelo nome. Isso é um indicador de que há banalização da situação por parte da própria Polícia que se refere à cidadã apenas como “vendedora ambulante/zungueira”, e há um descaso em relação a humanização das vítimas. Todos nós sabemos quem são as zungueiras, todos nós já tivemos com contacto com alguma, todos nós nos cruzamos com elas. E elas têm nomes, têm identidade, têm história. Não podemos continuar a não nomear, a polícia, os órgãos de comunicação social não podem simplesmente tratar por “cidadã ou vendedora ambulante”. É preciso saber o nome dessas mulheres, é preciso parar de invisibilizar as identidades dessas mulheres.
Este não é um caso isolado, tendo-se já verificado muitos outros casos. Este é mais um caso de uma mulher cujo nome desconhecemos, mais uma mulher para as estatísticas e que daqui a alguns dias será esquecida e ofuscada pelos dados oficiais.
Mas nós não nos esqueceremos. Nós sabemos que foi violência institucional. Nós repudiamos, declaramos tolerância zero e exigimos que se faça justiça e que se melhore a actuação da polícia. Exigimos que sejam refeitas todas estas políticas de “resgate da ordem pública” que tiram a vida de cidadãs e cidadãos deste país.
Por uma Angola mais justa, mais saudável, mais segura: onde se respeitem as pessoas e os seus direitos!