O QUE O PROFESSOR DE PORTUGUÊS (NÃO) DEVE ENSINAR (I PARTE)
Desde muito cedo, mesmo antes de optar pelo curso de Ciências da Educação, especialidade de Ensino da Língua Portuguesa, sempre aprendi que todo complemento é, na verdade, um objecto.
Aprendi, por exemplo, que “o complemento de um verbo transitivo directo é o objecto directo; de um verbo transitivo indirecto é o objecto indirecto, etc”.
Vamos, hoje, pôr fim a esse conceito. Sim, porque nem todo complemento é objecto, razão por que preferimos dizer SVC [sujeito–verbo–complemento] em vez de SVO [sujeito–verbo–objecto].
Existe, aliás, uma categoria mais ampla chamada “complemento” e dentro dela se inserem os “objectos”, que podem ser “directos” ou “indirectos”.
O grande problema, na nossa humilde forma de pensar, está na tradição de chamar de “objecto indirecto” qualquer complemento introduzido por preposição. Na linguística teórica, porém, o “objecto indireto” é o caso gramatical do “beneficiário”. Quando digo “liguei ao Caetano De Sousa Cambambe”, “Caetano De Sousa Cambambe” é o “beneficiário” da ligação. Mas quando digo “eu gosto de cerveja”, “cerveja” não é beneficiário de nada. No enunciado “eu gosto de cerveja”, “de cerveja” é um complemento oblíquo ou complemento relativo ou ainda, segundo certos autores, complemento de preposição. No caso de complementos oblíquos, eles são ditados pela regência dos verbos. A relação entre a PREPOSIÇÃO e o COMPLEMENTO OBLÍQUO é arbitrária (por que usamos, por exemplo, “de” em “gostar de”? por que usamos “com” em “sonhar com”?), ao passo que no caso do objecto indirecto a relação é obrigatória, uma vez que é preciso enunciar o beneficiário da acção.
É por essa e outras que para nós, estudiosos da ciência da linguagem, somente as preposições “a” e “para” introduzem objectos indirectos verdadeiros.