MÉDICOS SEM FRONTEIRAS DEIXAM ANGOLA POR RAZÕES FINANCEIRAS
A ONG francesa, de apoio médico, vai deixar mais uma vez Angola. As razões financeiras estão na base da decisão, mas os MSF reconhecem que o país “não está ameaçado” por doenças ou epidemias.
A organização Não-Governamental (ONG) humanitária Médicos Sem fronteiras (MSF) presente em mais de 70 países e vencedora do prémio ‘Nobel da Paz’ em 1999, vai deixar de trabalhar em Angola devido a uma redução orçamental.
O Ministério da Saúde, como parceiro principal, ainda não se pronunciou e os contactos feitos pelo NG não tiveram os êxitos desejados. Os MSF estão presentes em Angola desde os anos 1980, actuando na assistência médica, formação e em fornecimento de medicamentos a hospitais e associações.
O chefe de missão em Angola, Roland Fourcaud, justificou, ao NG, o encerramento dos escritórios por causa da redução orçamental, mas também pela “não existência de uma epidemia nem mesmo riscos aparentes de vir a acontecer nos próximos dias”. A missão em Angola tinha um orçamento de um milhão de euros e o escritório deve encerrar “temporariamente”.
A organização trabalhou em programas de emergências médicas, em zonas com elevados níveis de surtos epidemiológicos como foram os casos da cólera, febre amarela, actuou também na assistência aos refugiados do Congo e de angolanos, no tempo de guerra.
Para manter os serviços mínimos, foi criada, em Espanha, uma célula que vai acompanhar a evolução da situação sanitária em Angola, mantendo assim “um pé”, com alguns meios, na “eventualidade” de acontecer uma situação de emergência, que exija a sua intervenção. O ‘stock’, que fica durante um ano, é constituído por medicamentos, viaturas e outros equipamentos. A organização funciona com fundos próprios e não recebe financiamento dos governos locais. A decisão de encerrar já foi comunicada ao Governo, através do Ministério da Saúde. Todavia, o NG procurou contactar o Ministério, através do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa, as diversas chamadas telefónicas não foram atendidas.
O especialista sugere que se façam mais estudos e análises epidemiológicas sobre a situação sanitária em Angola, por ser um país tropical e lamenta que muitos hospitais estejam bem equipados e as populações privadas do acesso aos serviços devido ao mau estado das vias de acesso, percorrendo longas distâncias até chegar a esses locais.
O responsável admite que os MSF continuem em Angola, caso recebam um sinal do Governo. Sendo uma organização internacional, não pode aceitar financiamentos, também está disponível para formar profissionais sanitários angolanos. O chefe da missão reconhece que há muito trabalho para fazer em Angola, sobretudo no ramo da saúde, no combate a doenças tropicais, provocadas pelas águas da chuva e pelos mosquitos. Esta não é a primeira vez que a organização deixa Angola. Já o tinha feito em 2007 e 2017.
A ONG Médicos Sem Fronteiras é uma organização médica humanitária internacional, criada em 1971, em Paris, França, por médicos e jornalistas. Intervém em áreas afectadas por conflitos, epidemias ou desastres naturais A associação, que garante a sua independência obtendo recursos quase exclusivamente de doações privadas, está presente em mais de 70 países.
Fonte: Nova Gazeta | André Kivuandinga