MEA considera mercantilista medida do Governo que proíbe por dois anos ingresso de novos estudantes nos cursos de medicina

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O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) considera “mercantilista” a medida do Governo angolano, que por via do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, suspendeu num prazo de dois anos, o ingresso de novos estudantes nos cursos de medicina no ensino superior público, alegando falta de laboratório, por isso condena a postura das autoridades.

De acordo com o Ministério do Ensino Superior, a Universidade Agostinho Neto (UAN) começou a trabalhar para conformar as supostas irregularidades detectadas pelo INAARES durante o processo de avaliação dos cursos de medicina e de ciências de saúde, pelo que a universidade pública não poderá inscrever nos próximos dois anos, novos estudantes nos cursos de medicina e de ciências de saúde.

Deste modo, o Ministério do Ensino Superior, limitou durante dois anos, o acesso aos cursos ligados à área de medicina em Angola, nas áreas de medicina, enfermagem, farmácia e análises clínicas.

Em declarações ao Club-K, o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos, Francisco Teixeira, disse que se trata de uma “medida comercial”, que na sua visão visa “simplesmente segregar, cada vez mais os estudantes pobres em detrimentos dos estudantes com a capacidade financeira por serem filhos ou familiares de governantes”.

“Não faz sentido levar dois anos, para apetrechar um laboratório ou apetrechar uma universidade”, afirmou.

Para Francisco Teixeira, “se o Estado tem dinheiro para comprar 600 autocarros, disponibilizou mais de 40 milhões de dólares para equipar o Centro do Petróleo e Gás com ares condicionados, tem dinheiro para a construção do Metro de Superfície, como é que não tem dinheiro para equipar laboratórios e que temos que esperar dois anos?”, questionou.

O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) entende que o Ministério do Ensino Superior tomou uma decisão “comercial para enriquecer as pessoas que se envolvem na importação dos médicos estrangeiros”.

“Não podemos aceitar que, num país que tem falta de médicos, num país que todos os dias morrem pessoas nos hospitais nos centros de saúde nas cidades e nas zonas mais recônditas por falta de especialistas, hospitais e centros de referências com menos de cinco médicos e o corpo clínico é constituído na sua maioria por enfermeiros, limita-se o país durante dois anos sem formar médicos”, desabafou.

A medida do Executivo do Presidente João Lourenço, segundo Francisco Teixeira, surge numa altura em que o país se debate com a falta de especialistas na área de saúde. “Se estamos à falta de médicos e todos os anos estamos a importar médicos de Cuba e de outros países para trabalhar em Angola nas instituições públicas, não se justifica ficar dois anos sem a formação de pessoas nesta área”.

O líder do MEA anuncia que, para apresentar o seu posicionamento oficial, a organização convocou para esta quarta-feira, 17, uma conferência na Casa da Juventude, no município de Viana, em Luanda.

“Nós vamos realizar na próxima quarta-feira, uma conferência de imprensa, onde vamos apresentar os nossos argumentos de razão e mais uma vez, condenar a postura do Governo face esta situação que proíbe o país a formar médicos durante dois anos”.

O Movimento dos Estudantes Angolanos adianta por outro lado que, ao tomar a decisão de suspender os cursos de medicina, “há clara intenção de um grupo –  mais uma vez, o grupo que lucra com importação dos médicos estrangeiros está a criar condições para que se continue a contratar médicos de fora”.

Francisco Teixeira disse que a sociedade não pode admitir tal situação, pelo que garante exercer pressão ao Ministério do Ensino Superior, para que prove, assim como o Ministério da Saúde “qual é a necessidade de parar dois anos para apetrechar um laboratório”.

“O laboratório em seis meses equipa-se, e não é por falta de dinheiro por parte do Governo, e isso não aceitamos, por isso vamos entrar numa grande campanha e pressão ao Governo para revogar esta medida”, disse.

Club-K

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