MATALA: GRAVIDEZ PRECOCE PREOCUPA MORADORES DO BAIRRO MUVALE

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Na província da Huíla, município da Matala, concretamente no bairro Muvale, munícipes estão preocupados com o elevado índice de gravidez precoce. Médico local estima que cerca de 40 por cento de adolescentes são mães.

Texto de Jesus Domingos

Segundo a morador Maria Ngeve, a população está bastante preocupada com as crianças, garantindo que “no nosso tempo isso não havia”, visto que actualmente “já não se vai à igreja, agora é só discoteca”. António, outro morador, diz que tem visto crianças a brincarem até 23 horas  sob o olhar libertino dos pais.

“O meu filho de 14 anos namorava com a filha da vizinha e quando chamei os dois até a vizinha me falou mal. Aqui as mães se preocupam apenas com o negócio e não em passar bons hábitos pensando que namorar cedo é a solução dos problemas”, disse.

Rita Antónia lamenta por no bairro não ter “jovens para o futuro porque temos muitas crianças com outras crianças”, o que diz ter estado a afectar ao ponto de não irem à escola.

“Nem há lazer. Quem disse que um bairro não tem um espaço de lazer mas tem muitas cantinas, não se organiza feira mas organiza-se maratonas, também não se desenvolve palestras. Como é que as crianças não vão brincar com o pénis. O governo também é culpado porque nós podemos ensinar em casa mas isso não adianta pois lá fora vão encontrar já”, disse a cidadã.

Dodô, jovem morador do Muvle, confirmou à nossa equipa de reportagem que com treze anos teve o seu primeiro filho e com os quinze o segundo, ambos com mulheres diferentes. Não trabalha e os filhos estão a ser sustentados pelos seus pais.

Fernanda Canguya teve filho aos 14 anos de idade e classifica como “vergonhoso, apesar de ser um engano, mas não me arrependo”. Teve apoio moral do jovem-pai, mas faltou o apoio financeiro, pelo que “não aconselho ninguém a se engravidar porque nem na escola tive sucessos”.

Outra jovem, sob anonimato, disse ter tido o primeiro filho aos 15 anos. Queria abortar mas ouviu os conselhos e não fez. À altura fazia a sexta classe.

Albertina também teve o primeiro filho aos 15 anos, e agora, com 19, tem dois. “Foi um engano e não me cuidei mas fazer o quê?! Já pensei em tirar várias vezes mas o filho não tem culpa por isso não tirei e hoje não faço o mesmo”, lamentou.

“A minha mãe nunca me ensinou sobre isso, ela pensava que não era a minha idade, afinal e quando se apercebeu eu já tinha ficado grávida” disse Nguevinha, de 17 anos.

Para o estudante de sociologia Eduardo João, “isso é uma patologia social e que amanhã poderemos sofrer as consequências, pois uma criança não pode ter outra criança, afinal ainda não foi educada e creio que isso contribui na alta taxa de natalidade e mortalidade, como também na delinquência por falta de condições”. Acrescentou que “a falta de diálogo entre mãe e filha tem faltado muito, pelo que as mães ocultam o que se elas já sabem. É necessário sentar com os filhos para ensina-los sobre sexualidade, e não de forma oculta, mas falar coisa por coisa”.

Chama a secção da Juventude e Desporto do ministério de tutela à “realizar actividades que visam ajudar essas crianças e não apenas sentar para poder usa-las nas campanhas eleitorais”. Disse ser “uma vergonha o que se espera desses servidores públicos” que acusa de serem “os mais pedófilos”.

A professora Fátima Muendangula disse que “precisamos orar à Deus para nos ajudar pois isso é demónio e também as mães devem sentar com os filhos e os filhos devem aceitar o conselho dos pais”.

O professor Albano, que lecciona Educação Moral e Cívica numa escola do bairro, diz: “Aqui na nossa escola vemos crianças grávidas todos os dias. Está demais isso e a assustar pelos riscos que a gravidez tem, e a maioria delas são desempregadas. Lecciono E.M.C mas as crianças não ajudam, pois amam tanto o mastro que depois pretendem alcançar. 50% das nossas alunas que vivem neste bairro têm filho ou estão grávidas. Com elas é orar e os pais também não ajudam nesse processo. Deixam os filhos a se auto-educar e depois a sofrem os danos. Temos feito os nossos trabalhos mas aqui está demais, precisamos mais palestras e actividades que ocupem esses alunos e também mais diálogo entre os pais pois pensam que esse é o trabalho do professor, não, é trabalho conjuntural”.

Segundo o enfermeiro Alexandre, que trabalha no centro médico do Muvale, têm sido atendidas mais de 50 consultas pré natal diariamente. “Estou também preocupado porque a maior parte das pessoas que vêem aqui são adolescentes, crianças, mais de 40 por cento mesmo. A gravidez é um perigo nesta fase e se não leva a mãe, leva o filho, e as condições nos hospitais são precárias, sem medicamentos. Também quando um filho cresce sem orientação adequada desvia-se dos padrões socais e se torna gatuno. Então, com sensibilização, diálogo e mais paciência se resolve estes problemas”.

 

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