MAIS UM CIDADÃO ASSASSINADO NO CUANGO POR MILITARES E SEGURANÇAS DA EMPRESA PRIVADA “KADIAPEMBA”

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Na região do Cuango e noutras paragens da província da Lunda-Norte, mantém-se o clima de medo e intimidação no seio da população face à constantes actos de torturas e assassinatos de civis nas zonas de exploração de diamantes por parte de agentes policiais, militares e seguranças das empresas privadas de segurança, tuteladas por gerais e altas patentes da corporação.

Jordan Muacabinza | Cafunfo

O caso mais recente aconteceu na quinta-feira, 22/08, em que Miguel Francisco Luciano conhecido igualmente por Bernardo, 39 anos, foi alvejado mortalmente pelos militares e seguranças da empresa privada “Kadyapemba”, nas margens do rio Cuango.

Relatos avançados à Rádio Angola pelos garimpeiros sobreviventes apontam que, o grupo, num total de 100 foi surpreendido da manhã de quinta feira, 22, junto à ponte de Katewe no rio Cuango a praticar actividade de garimpo pelos seguranças “Kadyapemba” acompanhados de efectivos das Forças Armadas Angolanas envolvidos na “operação transparência”.

Após serem surpreendidos no local de garimpo com disparos de armas de fogo, os cidadãos, na sua maioria jovens, na tentativa de cada um querer salvar-se, foram apedrejados pelos agentes de segurança “Kadyapemba” e militares das FAA, tendo muitos dos garimpeiros lançando-se nas correntezas do rio Cuango, muito dos quais estão desaparecidos.

Dada à situação, os garimpeiros decidiram regressaram ao sector de Cafunfo para comunicar os familiares da vítima e postos defronte ao Aeródromo de Cafunfo, cruzaram com uma viatura afecta à “Sociedade Mineira do Cuango, empresa que se dedica à exploração de diamantes e protegida pela segurança “Kadyapemba”, que se encontrava no processo de recolha de trabalhadores, facto que motivou a fúria dos garimpeiros devido à morte do seu companheiro, impedindo que a mesma viatura entrasse na vila de Cafunfo, tendo estes arremessado vários objectos contundente sem resultar em dados materiais ou humanos.

As vítimas lamentam que, ao invés de serem responsabilizados os culpados pela morte do garimpeiro, a Polícia Nacional “está a perseguir os jovens em causa, em espécie de caça ao homem em toda extensão da vila de Cafunfo”, disse à Rádio Angola um dos sobreviventes dos ataques.

Os defensores dos direitos humanos na Lunda-Norte consideram falta de honestidade por parte do porta-voz do Comando Provincial, Domingos Mwanafumo que teria desmentido actos de assassinatos de cidadãos civis em áreas de exploração de diamantes.

“Ainda não passou sequer uma semana, a mesma segurança que estava sendo defendido pelo suposto comandante voltaram a cometer outras atrocidades, pois é a mesma segurança que temos denunciado constantemente”, disse um dos activistas.

A população diz-se indignada e revoltada com a onda assassinatos na região do Cuango, pelo que reiteram o apelo ao Presidente da República, João Lourenço para o fim das mortes que têm sido protagonizadas pelos seguranças “Kadyapemba”, efectivos da Polícia Nacional, Forças Armadas Angolanas e Polícia de Guarda Fronteiras.

A Rádio Angola apurou igualmente que, a par do assassinato do cidadão Miguel Francisco Luciano “Bernardo”, 39 anos, por militares e seguranças “Kadyapemba”, há igualmente o registo da morte do jovem Alegria Kavula, 25 anos, assassinado por voltas das 4h00, do dia 24 de Julho, ao ser surpreendido com mais quatro pessoas quando exerciam o garimpo artesanal numa zona junto à ponte do Tximango, no rio Cuango.

O grupo (cinco garimpeiros) teria sido encontrado pelos seguranças “Kadyapemba”, que a única forma de correr com eles foi por meios de disparos feitos a queima-roupa, um dos quais atingiu mortalmente Alegria Kavula que morreu no local.

Um dos garimpeiros que escapou da morte, contou que depois de terem sido surpreendidos com tiros, os agentes de segurança “começaram a nos torturar com paus e pistolas pela cabeça enquanto ao nosso companheiro faleceu na hora”, referiu.

Vários têm sido os esforços das entidades envolvidas com vista à redução de tais abusos, incluindo o provimento de queixas. Essas medidas têm sido insuficientes para conter a atitude de muitos agentes do Estado, que encaram as Lundas como um autêntico faroeste, sem ordem nem leis, onde o uso da bala, da farda e da violência ditam as regras de jogo.

Como a Rádio Angola tem reportado, os casos de assassinatos de cidadãos civis parecem não ter fim à vista, pois semanalmente, surgem relatos de novos actos, cujas acções são atribuídas aos mesmos organismos: Agentes da Polícia Nacional, Forças Armadas Angolanas (FAA), Polícias de Guarda Fronteiras e Seguranças da empresa privada “Kadyapemba”.

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