LUANDA ACOLHE PRIMEIRA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PAN-AFRICANISMO SANKOFA19
Luanda foi palco do Sankofa19 no final de semana, na Universidade Gregório Semedo que debateu o Pan-africanismo, marcando assim o regresso de negros na diáspora ao Continente Berço da Humanidade tal como discutir vários problemas da África.
Texto de Simão Hossi
O evento trouxe à capital angolana Mille Alexandre (dos Kilombos, São Paulo, Brasil), Joseph Waker Jr. (da Waker Foundation, EUA), Alfa Kuabo (coordenador geral da União da Diáspora Angola – UDA, do Reino Unido), Emmanuel Mayassi (representante da UDA em França), e os anfitriões Isidro Furtunato (coordenador geral do Projecto Ubuntu), o antropólogo Filipe Vidal, a enfermeira e investigadora Judith Luacuti, o historiador Moisés Kamabaya e Tony Nguxi, investigador cultural e artista.
A organização do evento esteve na responsabilidade do Projecto Ubuntu, que já têm como linha ideológica o pan-africanismo e o resgate do pensamento de grandes ideólogos da luta e respeito da identidade negra, co-organizado pela UDA – UK, e Waker Foundation – EUA.
Isidro Fortunato, coordenador do Projecto Ubuntu e anfitrião, justificou na ocasião a organização do “Sankofa19” como sendo um marco do grande regresso dos filhos de África à terra-mãe que tinham sidos levados para Europa, América e outras paragens na condição de escravidão. Para este afrocrata, o facto de muitos terem feitos famílias e adquiridos culturas de outras sociedades é chegado o momento de estes voltarem para viverem a sua cultura e identidade.
O historiador e autor da obra “O renascimento da personalidade africana” fez um panorama nas questões históricas do significado e origens do movimento de regresso à África. Segundo Kamabaya, o movimento nasceu na Jamaica com o Marcus Garvey na qualidade de grande ideólogo deste movimento.
O afro-descendente Joseph Waker Jr., fundador da Fundação Waker, que veio a Luanda pela primeira vez a convite da União da Diáspora Angolana para partilhar a sua história e lutas sobre o pan-africanismo ao público do Sankofa19, aproveitou falando de várias áreas que pensa em investir nas províncias de Luanda e Bengo. O primeiro negro afro descendente graduado numa das universidades conservadora da sua zona na região dos EUA disse que simpatizou com o País e que pensa voltar em breve para dar seguimento aos seus projectos investindo nas áreas como a educação, habitação através de construções de casas sociais, promoção nas áreas da cultura, ensino das novas tecnologias de informação, como também vendas de cosméticos para cabelos naturais e não só. Waker pondera até adquirir a nacionalidade angolana para poder facilitar vários investimentos que tem para com o País de forma a ultrapassar as questões burocráticas.
Já a enfermeira Judith Luacuti apresentou a sua experiência e semelhanças com uma comunidade do Kafundó, no Rio de Janeiro, Brasil, que tem e falam uma língua denominada “kupopia”, que em umbundu se diz “okupopia”, palavra que significa “falar”. Nas suas pesquisas descobriu que se tratava de uma comunidade proveniente de Angola e que até aos dias de hoje preservam as origens culturais angolanas.
Mille Alexandre, da comunidade dos Kilombos, que descobriu sua descendência do norte de Angola, na província do Uíge, primou na sua comunicação as lutas do racismo que vivem enquanto cidadã brasileira e os valores da sua identidade cultural e as lutas pela desigualdade entre as populações negras.
Alfa Kuabo, angolano residente na Inglaterra há muitos anos, disse que o Sankofa19 significa permitir trazer as oportunidades e irmãos de várias diásporas para investir no continente e em especial em Angola. Para o coordenador do UDA “é a hora de lutar para a nossa soberania e não continuar a ver os males que ele entende ser invenção da média europeia que estão mais preocupados com a extracção da riqueza dos africanos”.
Subiram ao palco para este Sankofa19 o artista e pesquisador Tony Nguxi, Emmanuel Mayassi, angolano residente em França, e Filipe Vidal, antropólogo, que abrilhantaram com as suas experiências e pontos de vista sobre a temática posta em cima da mesa e ouve demonstrações de danças africanas, moda e música.
Os organizadores aproveitaram o evento para angariar donativos, como alimentos não perecíveis, materiais didácticos, roupas usadas, doados pelos participantes que foi oferecido ao lar de caridade Mãe Grande Nova Semente, localizado na zona da Vidrul, em Cacuaco, para além de garantir uma esperança aos jovens e crianças que vivem neste lar de beneficência.