Líder da UNITA reage ao reconhecimento de Jonas Savimbi e Holden Roberto: “Não é um acto de perdão, mas de mérito”
O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, considerou positiva, mas incoerente, a decisão do Presidente da República, João Lourenço, de reconhecer formalmente os fundadores da Nação angolana, Jonas Savimbi e Holden Roberto. A declaração foi feita nesta quarta-feira, em entrevista à Rádio Comercial Despertar, após o discurso sobre o Estado da Nação.
Adalberto Costa Júnior afirmou que o reconhecimento dos “pais da Nação” deve ser entendido como um acto de mérito histórico, e não como “um gesto de perdão”, como sugerido pelo Chefe de Estado.
“O reconhecimento pela independência deve ser sempre um acto de mérito, nunca um acto de perdão. Perdoar os pais da Nação não faz sentido. O reconhecimento aos fundadores da pátria deve ser igual e justo para todos, não uma concessão, muito menos uma forma de perdão”, disse o presidente da UNITA.
O dirigente recordou que a bancada parlamentar do MPLA, que hoje aplaudiu a decisão presidencial, votou no passado contra uma proposta de lei apresentada pela UNITA que previa o reconhecimento formal de todos os fundadores da independência de Angola.
“Isso revela falta de coerência e seriedade”, observou.
Apesar das críticas, Costa Júnior admitiu que a pressão da sociedade e das forças políticas, incluindo a UNITA, “teve resultado”, embora o percurso tenha sido “desnecessário e cheio de recusas e contradições”.
“Nós nunca mudámos de posição. Quem mudou foi o Presidente da República e o MPLA. Ainda assim, é positivo quando alguém tem a coragem de corrigir um erro”, declarou.
O líder da oposição aproveitou ainda para comentar o discurso sobre o Estado da Nação, classificando-o como “monocórdico, longo e distante da realidade do país”.
“O Presidente falou muito, mas não trouxe soluções concretas. Não falou da fome, nem da extrema pobreza, nem do desemprego juvenil, nem da corrupção que corrói as instituições. Falou de um país que, muitas vezes, não é o que o cidadão vive”, afirmou.
Adalberto Costa Júnior lamentou que as autarquias locais continuem esquecidas e considerou que a justiça, elogiada pelo Presidente, “é hoje vista com descrédito e desconfiança pela maioria dos angolanos”.
Concluiu apelando a um rumo mais inclusivo e verdadeiro para Angola, sublinhando que os 50 anos da independência deveriam ter sido marcados por “um grande debate nacional e um gesto de unidade”, o que, segundo disse, “não aconteceu”.
“O essencial é que caminhemos com verdade, coerência e transparência, para que o destino de Angola seja construído por todos os seus filhos”, finalizou.
CK

