Jovem de 19 anos morre depois de ser atingido por efectivos das FAA em Capenda Camulemba
A violação dos direitos humanos tornou-se uma prática normal na província da Lunda-Norte, particularmente em zonas de exploração de diamantes, diz a população local, com maior incidência nas regiõesdo Cuango e Capenda Camulemba, onde quase todas as semanas, surgem relatos de cidadãos que são assassinados por supostos agentes de defesa e segurança do Estado Angolano, bem como pelos efectivos das empresas de segurança privada que protegem as minas de diamantíferas.
Jordan Muacabinza | Cafunfo
A vítima mais recente é um jovem de 19 anos, aluno da 6ª classe, identificado por Gil Serafim Chaca baleado na perna direita a 20 de Novembro último por um grupo de militares das Forças Armadas Angolanas (FAA), destacados nas “Operações Transparência e Resgate”.
Morador do bairro Mussanga, município de Capenda Camulemba, a vítima ainda em vida no Hospital Regional de Cafunfo onde foi socorrido antes da sua evacuação para Malange, contou que, tudo aconteceu na manhã do dia 20/11, às 9h00, quando tentava comprar pão para o pequeno almoço.
Para a surpresa dos populares, o bairro Mussanga ficou cercado de militares das FAA e Comandos, e sem saberem o que efectivamente se passava começaram a ouvir vários tiros que estavam a ser feitos de forma descriminada pelos homens armados.
Ao ouvir os tiros que saíam de um canto a outro, Gil Serafim Chaca decidiu assim pegar uma moto e voltar para a sua casa, mas para a sua tristeza um dos disparos atingiu a sua perna direita causa deste modo uma fractura grave.
“Comecei a escorrer muito sangue e os militares começaram a fazer muito distúrbio no bairro. Depois disso, os meus familiares alugaram uma viatura que me trouxe aqui no Hospital Regional de Cafunfo para o tratamento”, disse.
O caso de Gil foi considerado delicado pelos médicos de Cafunfo, que segundo apurou este portal, o Hospital Regional não tem especialistas que podiam atender tal situação, pelo que haveria necessidade de transferi-lo para à Província de Malange.
Já no dia seguinte (21/11), o repórter da Rádio Angola foi até ao hospital para saber o estado de saúde de Gil Serafim Chaca, tendo sido informado que o jovem baleado foi evacuado para Malange e ao telefone conversou com um dos tios da vítima, Zeto Paulo Dias Sandjombi, que acompanhava o doente para o Hospital Regional de Malange.
Para o desalento dos familiares, Gil Serafim Chaca acabaria por morrer na ponte sobre o rio Lui quando estava ser transferido para à Provincial de Malange.
“Estou a exigir justiça e a devolução dos gastos feito do aluguer de viaturas, bem como à compra do caixão”, disse Alice Paulo (35 anos), mãe do malogrado para quem “esses senhores e militantes do MPLA mataram o meu filho sem qualquer culpa, e os autores andam a solta sob o olhar cúmplice de quem está a governar o país”.
Após a morte de Gil, os familiares tiveram que regressar com o cadáver à Vila de Cafunfo onde foi sepultado. “Essa desgraça toda que foi causada, se Hospital Regional de Cafunfo providenciasse uma ambulância, acredito que o meu filho não morreria pelo caminho, agora quem vai me cuidar?”, lamenta a mãe com a voz ronca e tremula.
A progenitora lembra que era aluno da 6ª classe e nunca fez trabalho de garimpo: “Não foi encontrado em sua posse com pás, tâmim, ou qualquer um dos meios que são usados para o garimpo”, afirmou, acrescentando que “eles atingiram o meu filho com uma bala e os militares fugiram, e o governo também não quer se responsabilizar”.
Os familiares dizem que os órgãos da administração municipal negaram prestar qualquer apoio, alegando que “este caso vocês os país é que têm de assumir, porque a tropa é do governo e está em serviço do Governo”.
Alice Paulo referiu que teve que contrair dívidas para o aluguer de viaturas que transportaram o seu filho, num total 210 mil kwanzas, por isso a senhora clama por justiça: “Espero que se faça justiça, o governo angolano e as organizações não governamentais, têm que me ajudar”, disse.
Tentamos contactar por via telefónica o comandante das Forças Armadas Angolanas (FAA) da Unidade Militar de Muxinda, mas nada resultou.
O saque dos militares a bens de populares
Durante acção protagonizada por alegados efectivos das FAA, os bens dos populares do bairro Mussanga não foram poupados. O ancião Nicolau Manuel de 50 anos e dono de uma cantina, afirmou que o seu estabelecimento comercial foi saqueado por militares armados que faziam disparos de forma discriminada.
No assalto à cantina, conta o mais velho Nicolau, “os militares roubaram-me uma motorizada, levaram todo dinheiro que tinha vendido até aquele período do dia”. Entre os bens “roubados”, segundo a vítima, constam igualmente caixas com mais de vinte lanternas e cinco caixinhas de pilhas.
Os militares, de acordo com a fonte, levaram também cerveja de diversas, quebraram o seu rádio e o televisor de marca sharp 21, dez frascos de creme, quebra do espelho de parede, para além de terem danificado a porta da sua cantina e a queima de uma motorizada.
Este portal que esteve no local das “caramussas”, constatou que no mesmo dia 20/11, o bairro Mussanga, no município de Capenda Camulemba ficou às “moscas”, pois os populares tiveram que fugir nas matas para escaparem da fúria dos homens armados.